
Por Política em Debate I Brasília
Em 08/06/2025, 16h52 I Leitura 2 min
Duas entrevistas recentes do ex-oficial de inteligência norte-americano Scott Ritter, concedidas ao podcast Fresh Info Insight, jogam luz – como já fazem analistas independentes como Jeffrey Sachs e Pepe Escobar – sobre algo que boa parte da grande imprensa ocidental se recusa a admitir e ainda, de forma irresponsável, repercute no imaginário popular como uma “vitória da Ucrânia contra a Rússia“: o mundo esteve — e talvez ainda esteja — perigosamente próximo de uma guerra nuclear, provocada não por “provocações russas”, mas por operações clandestinas ocidentais planejadas para serem executadas na surdina.
Quem é Scott Ritter?
Scott Ritter é ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos e atuou como inspetor-chefe de armas da ONU no Iraque durante os anos 1990. Ganhou notoriedade internacional ao denunciar publicamente as manipulações de inteligência que levaram à guerra contra o Iraque em 2003, sendo uma das vozes mais críticas e lúcidas dentro do establishment militar americano. Hoje, Ritter é reconhecido por suas análises incisivas em geopolítica e segurança internacional, oferecendo uma perspectiva rara, crítica e fundamentada sobre os bastidores das decisões que moldam o cenário global.

Segundo Ritter, os ataques com drones a bases estratégicas russas na Sibéria, que abrigavam bombardeiros nucleares — parte da tríade de dissuasão da Federação Russa — foram planejados pelo MI6 britânico, com pleno conhecimento (e conivência passiva) da CIA. O braço operacional? Agentes ucranianos, treinados e instrumentalizados, provavelmente durante mais de um ano, como peões numa escalada belicista que claramente ultrapassa as fronteiras da Ucrânia.
Mais do que um episódio isolado, esse ataque significou, nas palavras de Ritter, a violação de duas cláusulas fundamentais da doutrina nuclear russa. O envolvimento direto de um Estado nuclear (o Reino Unido) em um ataque preventivo contra os meios estratégicos de outro Estado nuclear (a Rússia), que representa, na prática, a uma escalada que poderia justificar, do ponto de vista doutrinário, uma resposta nuclear russa.
Ritter vai além: afirma que a Grã-Bretanha e os Estados Unidos estão jogando roleta russa com a humanidade, partindo do pressuposto temerário de que “os russos estão blefando”. Um erro de cálculo, nesse contexto, não significa perder um peão no tabuleiro, mas acionar o botão do fim do mundo.
Trump não sabia — ou preferiu não saber?
O ex-presidente Donald Trump, segundo Ritter, não teria autorizado diretamente tais operações. Mas o mais grave é que a CIA pode ter ocultado os planos de ação da cadeia de comando, agindo sob a lógica do chamado “estado profundo”. Um alerta claro sobre a perda de controle institucional sobre estruturas de poder que hoje operam por agendas próprias.

Putin: contenção ou retaliação?
Segundo o analista, a Rússia está calibrando sua resposta. Não apenas militar, mas simbólica. A ideia é transmitir uma mensagem clara: num próximo ataque, a resposta poderá ser Londres desaparecendo do mapa. A retaliação em curso, que já visa eliminar a infraestrutura estratégica da Ucrânia e sua liderança política, não deve ser subestimada. Scott Ritter afirma, com todas as letras: “Putin chamou Zelensky de terrorista. E há apenas uma forma de lidar com governos terroristas: eliminá-los.“
Guerra por procuração? Não. Guerra pela sobrevivência do Ocidente decadente
Essas entrevistas desmontam a narrativa preguiçosa da “resistência ucraniana heroica” contra o “imperialismo russo”. O que se vê é um jogo perigoso, travado por potências ocidentais decadentes que tentam manter sua hegemonia à custa de provocar uma guerra mundial.
A lógica de Ritter é dura, mas coerente: se fosse o México lançando drones sobre bases nucleares americanas, com apoio da China ou da Coreia do Norte, os EUA apagariam o país da face da Terra em minutos. Por que, então, exigir da Rússia uma contenção que nenhuma potência exerceria em situação semelhante?
Scott Ritter pode ser incômodo para os que vivem da repetição do discurso oficial, mas sua análise lança luz sobre a real natureza do conflito e da escalada belicista em curso. Estamos, sim, à beira de uma guerra termonuclear, não por causa da Rússia — mas por causa da arrogância e da insensatez das elites ocidentais.
As entrevistas de Scott Ritter ao podcast Fresh Info Insight