O Mercado financeiro $$$, manda no mundo

Por Política em Debate I Brasília

Em 29/05/2025, 18h20 I Leitura 2 min

Austeridade para quem? Para os desvalidos e miseráveis

A política monetária brasileira segue sob forte questionamento, especialmente quando se compara o comportamento do Banco Central (BC) com a postura de outros bancos centrais globais, como o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos. Tanto Lula quanto Trump, cada um à sua maneira, enfrentam resistências das autoridades monetárias de seus países quando pressionam por uma redução das taxas de juros para estimular a economia. No entanto, as diferenças entre os contextos são gritantes: enquanto nos EUA a taxa básica de juros está em torno de 4,5% ao ano para uma inflação de aproximadamente 3% (um juro real de 1,5%), no Brasil, sob a gestão de Miguel Galípolo, a Selic chegou a 14,75% com inflação anualizada de 5% e em queda, resultando em um juro real superior a 9% — seis vezes maior que o americano (Banco Central do Brasil; Federal Reserve, 2024).

Galípolo: O Bezerro de Ouro dos Rentistas?

Essa disparidade não é apenas técnica, mas política. O Banco Central brasileiro, apesar do discurso de autonomia, age como extensão dos interesses do sistema financeiro, especialmente os representados pela Faria Lima. A escolha de Galípolo para o comando do BC foi recebida com entusiasmo pelo mercado financeiro, enquanto setores industriais e produtivos expressaram reservas. Lula, ao declarar publicamente que “o governo nunca vai fazer pressão sobre você”, sinalizou uma postura de não confronto, o que acabou por fortalecer ainda mais a posição do BC e de seus diretores perante o Executivo (O Globo, 2024).

Juros Abusivos e o Retrocesso Econômico: Um Olhar Crítico para o Brasil

O resultado dessa política é perverso: juros reais estratosféricos, retração do crédito, desaquecimento da atividade econômica e aumento do desemprego. O BC justifica a manutenção da Selic em patamares elevados como forma de controlar a inflação, mas ignora o impacto social e produtivo dessa decisão. Não por acaso, a missão legal do BC — que inclui, além do controle da inflação, a promoção do pleno emprego e o equilíbrio do sistema financeiro — é sistematicamente reduzida à obsessão pelo combate à inflação, mesmo quando ela já está sob controle (Lei Complementar 179/2021; Carta Capital, 2025).

Esse cenário revela o predomínio de uma “democracia de mercado”, na qual as decisões fundamentais sobre o rumo do país são tomadas por tecnocratas blindados do debate público, mas profundamente alinhados aos interesses do rentismo. O contraste com a trajetória dos EUA é instrutivo: o crescimento americano foi impulsionado, durante décadas, pelo capitalismo industrial, que gerou empregos, inovação e poder econômico. Só depois de consolidar sua base produtiva, os EUA migraram para o capitalismo financeiro, o que foi um profundo erro estratégico, com resultados nefastos décadas à frente, e que desde a gestão de Barack Obama e agora a de Trump, os Estados Unidos tenta, de forma inútil, alterar, retroceder à década de 70. A opção pelo capitalismo financeiro dos Estados Unidos, transferindo a sua capacidade produtiva de bens, foi que permitiu a China ser a potência industrial e tecnológica que é hoje.

Países que apostam no capitalismo industrial — China, Índia, Rússia, Indonésia e outros — lideram o crescimento global e desafiam a hegemonia do Ocidente, enquanto consolidam poder econômico, tecnológico e militar (The Economist, 2023; FMI, 2024).

A elite que odeia o povo: quando congelar o salário mínimo é visto como solução

No Brasil, a política contracionista do BC não apenas sufoca a indústria e o setor produtivo, mas também compromete a arrecadação do Estado, levando a cortes e contingenciamentos em áreas essenciais como educação e saúde. Em maio de 2025, o governo Lula anunciou bloqueios orçamentários para universidades federais e o SUS, justificando a medida pela necessidade de cumprir metas fiscais diante da queda na arrecadação — consequência direta do desaquecimento provocado pelos juros altos. Reitores, gestores de saúde e movimentos sociais alertam para o risco de colapso nos serviços públicos, enquanto o sistema financeiro segue lucrando com a rolagem da dívida pública e a remuneração dos títulos atrelados à Selic (Folha de S. Paulo, 2025; Estadão, 2025).

O ciclo é perverso e autossustentável: atividade econômica em baixa reduz arrecadação, obriga o governo a cortar gastos e rolar dívidas, enquanto o setor financeiro se beneficia do ambiente de juros altos. Não por acaso, como já dissemos, nos EUA, mesmo figuras conservadoras como Trump e, antes dele, Obama, buscaram reindustrializar o país e reduzir a dependência do setor financeiro, reconhecendo que o desenvolvimento sustentável passa pela valorização da produção e do emprego. No Brasil, o programa de neoindustrialização ainda é tímido e enfrenta resistência dos interesses financeiros, que controlam o BC e dificultam o acesso ao crédito para investimentos produtivos.

Enquanto isso, seguimos discutindo temas periféricos, enquanto a política monetária mantém o país refém do rentismo e da estagnação. O desafio é romper esse ciclo, recuperar o controle democrático sobre o Banco Central e recolocar o desenvolvimento, o emprego e a produção no centro da agenda nacional.


Referências:

  • Banco Central do Brasil. Relatórios de Inflação e atas do Copom, 2024-2025.
  • Federal Reserve. FOMC Statements, 2024.
  • Lei Complementar 179/2021.
  • Carta Capital. “Galípolo contraria expectativa do governo e faz apelo por aprovação da PEC de autonomia do BC”, 2025.
  • O Globo. “Lula diz que não fará pressão sobre Galípolo”, 2024.
  • Folha de S. Paulo. “Governo anuncia contingenciamento em universidades e saúde”, 2025.
  • The Economist. “The new industrial giants”, 2023.
  • FMI. World Economic Outlook, 2024.
  • Estadão. “Impacto dos cortes na saúde e educação”, 2025.

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