26 de abril de 2023, 19:01h
O Brasil se acostumou com uma realidade tão distópica durante o curso do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que um presidente em exercício receber, ora se diz recebeu 9 mil itens, agora 8 mil itens, de presentes e, faltando dois dias para término do seu mandato, transferiu todos esses ditos “presentes”, dentre eles um pacote de joias masculinas, agora se sabe, avaliado entre R$ 1 a 2 milhões, para a fazenda do seguidor e amigo Nelson Piquet . Essa realidade que chocaria a qualquer um, parece ter se tornado uma coisa normal no Brasil.
A imprensa não se pergunta em quanto está avaliada essa enxurrada de presentes e o por quê de Bolsonaro os ter recebido? À troco de quê? E muito menos por que, a exceção de poucos veículos de comunicação independentes, como a Revista Forum, Bolsonaro ter transferido todo esse patrimônio, faltando dois dias para o témino do seu governo, provavelmente grande parte deles de valor que deva incorporá-los ao Patrimônio Público Nacional, para um “cidadão” literalmente os esconder?
Mas a operação ficou a cargo, óbvio, de dois militares de confiança máxima, que se incumbiram de transferir e armazenar na fazenda do ex-piloto os mais de oito mil itens recebidos.
A operação começou dez dias antes de terminar o mandato de Bolsonaro, que responsabilizou o coronel e ex-assessor parlamentar do comando do Exército, Marcelo Câmara, para atuar diretamente na mudança dos presentes.
O coronel Câmara, que é ou era segurança do ex-presidente, contou com a ajuda do subtenente do Exército Osmar Crivelatti, que também atua ou atuava como assessor do Bolsonaro. Foi o subtenente quem entregou as joias e armas recebidas dos regimes árabes, após os casos serem revelados e levarem à determinação de devolução dos itens pelo Tribunal de Contas da União. Se isso não viesse a público, assim como foi o rumoroso caso da apreensão do pacote de joias femininas no valor de R$ 16,5 milhões destinados à Michelle Bolsonaro e retidos pela Receita Federal, talvez nem se soubesse da existência desses 8 ou 9 mil presentes. Ficariam de vez no acervo e fortuna da família Bolsonaro? Ele iria espontaneamente devolver? Duvido. E quem fez essa contabilidade dos 8 ou 9 mil presentes? Onde foi registrada? Todos os presentes foram devidamente fotografados e catalogados no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH)? Duvido que essas perguntas embaraçosas venham a ser feitas , de fato, e muito mesmo respondidas.
Mas como nada fica escondido para sempre, uma funcionária do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH), que atuava no setor durante a gestão Bolsonaro, confirmou à Polícia Federal (PF) a atuação direta de Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti no trâmite.
É realmente surreal a forma como se deu a governança de Bolsonaro durante a sua passagem de 04 anos no poder. Aos poucos a sociedade começa a saber das patifarias, compadrios e corrupção que permearam e foram a tônica desse desgoverno.
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