
Por Política em Debate I Brasília
Em 02/06/2025, 19h50 I Leitura 2 min
É raro, mas profundamente necessário, ouvir a voz de quem, de dentro da própria tradição judaica, ergue-se contra o massacre promovido pelo sionismo em Gaza. O relato que segue, extraído do depoimento de um judeu ortodoxo sobrevivente do Holocausto, é um soco no estômago de qualquer um que ainda se recuse a enxergar o genocídio em curso.
Nascido em meio ao terror nazista, ele perdeu avós e quase toda a família em Auschwitz. Tornou-se sionista, acreditando no sonho de um povo judeu ressurgindo em sua terra histórica, trocando o arame farpado dos campos de extermínio pelas fronteiras de um Estado forte. Mas a realidade foi outra: para erguer esse Estado foi preciso impor um pesadelo à população local. Não há como negar: a criação de Israel exigiu a opressão e a expulsão sistemática dos palestinos. Historiadores israelenses já comprovaram que a Nakba — a catástrofe palestina — foi deliberada, cruel, persistente e assassina.
O próprio depoente visitou os territórios ocupados durante a Primeira Intifada e chorou todos os dias diante da brutalidade, da ocupação, das humilhações, do corte de oliveiras, da negação de água e dos assassinatos. “É a mais longa operação de limpeza étnica do século XX e XXI”, denuncia. Ele pode, como judeu, desembarcar em Tel Aviv e exigir cidadania. Já sua amiga palestina, nascida em Jerusalém, não pode nem visitar sua terra natal. “Se eu tenho direito de retorno depois de 2 mil anos, por que ela não tem depois de 70?”
Gaza, diz ele, é a maior prisão a céu aberto do mundo. Não é preciso apoiar o Hamas para defender os direitos dos palestinos — qualquer comparação entre as ações do Hamas e a repressão israelense é absurda: “Multiplique por mil tudo de ruim que dizem do Hamas, e ainda assim não chega perto do que Israel faz contra os palestinos”.
A hipocrisia da imprensa ocidental é gritante: jovens que enfrentam a polícia em Hong Kong ou a ditadura em Mianmar são chamados de heróis, mas crianças palestinas que atiram pedras contra soldados israelenses são tachadas de terroristas. Israel, segundo ele, comete atrocidades com muito menos crítica internacional do que qualquer outro país.
O relato traz ainda o drama das crianças palestinas presas por meses ou anos, sem ver a família, vivendo um trauma que nunca cessa. Soldados e pilotos israelenses, hoje arrependidos, relatam as brutalidades que cometeram e se recusam a participar de bombardeios em Gaza.
A verdade está disponível para quem quiser ver, diz ele. O silêncio ou a ignorância são escolhas, alimentadas por uma campanha deliberada de intimidação e silenciamento. “Não se trata de ser pró-palestino. Trata-se de justiça, de liberdade, de verdade. Ou você está do lado da justiça, ou não está.”
Este depoimento é um chamado à humanidade. Não há desculpa para o mundo assistir calado ao genocídio em Gaza. O silêncio, neste caso, é cumplicidade.