
Por Política em Debate I Brasília
Em 28/05/2025, 12h35 I Leitura 2 min

O Senado Nacional protagonizou mais um espetáculo lamentável de misoginia e desprezo pelo papel da mulher na vida pública. Em plena Comissão de Infraestrutura, a ministra Marina Silva foi alvo de agressões verbais do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que, sem pudor algum, declarou que “a mulher Marina merece respeito, a ministra não” — como se fosse possível separar a dignidade da pessoa do cargo que ocupa. A ministra ainda ouviu ‘ponha-se no seu lugar’ e reagiu com firmeza. O episódio revelou uma clara tentativa de silenciamento, diante da força de quem já superou obstáculos muito maiores. Não satisfeito, Valério já havia, meses antes, afirmado publicamente que teve “vontade de enforcá-la” durante uma sessão da CPI das ONGs, declaração que lhe rendeu denúncia ao Conselho de Ética, mas nenhuma consequência real aconteceu, aliás, como quase nunca acontece, face ao vergonhoso corporativismo que impera no Senado e também na Câmara de Deputados.

O ataque misógino sofrido por Marina Silva no Senado não é apenas um episódio lamentável de violência política de gênero, mas também uma afronta à trajetória de uma das figuras mais respeitadas da história recente do Brasil. Nascida em um seringal no Acre, Marina construiu sua vida pública enfrentando o preconceito, a pobreza e a doença, e se tornou referência internacional em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos. Eleita vereadora, deputada estadual e, depois, a mais jovem senadora do país, Marina foi fundamental na criação de reservas extrativistas ao lado de Chico Mendes e recebeu o prêmio Goldman, o “Nobel do Meio Ambiente”, em 1996.

Como ministra do Meio Ambiente, Marina foi responsável pela implementação do PPCDAm, plano que derrubou drasticamente o desmatamento na Amazônia e projetou o Brasil como potência ambiental. Marina também foi protagonista de três campanhas presidenciais (2010, 2014 e 2018), sempre pautando a sustentabilidade, a justiça social e a ética na política, conquistando milhões de votos e incomodando profundamente a extrema direita, que vê na pauta ambiental um obstáculo aos seus interesses predatórios.
A volta de Marina Silva ao Ministério do Meio Ambiente, em 2023, marcou a retomada do combate ao desmatamento e a reativação do Fundo Amazônia, com resultados expressivos na redução da devastação floresta. Marina Silva, portanto, não é apenas vítima de ataques misóginos e covardes: ela é símbolo de resistência, competência e compromisso com o futuro do Brasil — tudo o que a extrema direita, misógina e retrógrada, insiste em tentar silenciar.
O episódio desta semana escancarou o que há de mais asqueroso na política nacional: um senador que não apenas se sente à vontade para atacar uma mulher em público, mas que repete a conduta, seguro de sua impunidade. Marina, com dignidade, exigiu retratação e, diante da recusa, deixou a sessão — atitude que recebeu imediata solidariedade do presidente Lula, de ministras e da sociedade civil, indignados com o nível rasteiro do debate e o machismo institucionalizado no Senado.


É sintomático que, diante do avanço da pauta ambiental e da defesa dos direitos das mulheres, setores da extrema direita recorram à brutalidade e ao desrespeito para tentar calar vozes incômodas. O ataque a Marina não é apenas um ataque à pessoa, mas à luta histórica das mulheres por espaço, respeito e igualdade. E é revoltante que figuras como Plínio Valério ainda ocupem cadeiras no Senado, representando o que há de pior na política brasileira: misoginia, truculência e desprezo pelo interesse público. O mínimo que se espera é que o Senado, finalmente, tome providências à altura da gravidade do caso — porque o Brasil não merece ser representado por quem naturaliza a violência e o ódio como método de ação política.