De Política em Debate

Publicado em 03/04/2025, 11:15h

Interessante abordagem sobre o tarifaço de Trump anunciado nesta quarta, nessa entrevista de Lucas Ferraz, ex-secretário de comércio exterior do Brasil, à CNN Brasil.

O que se viu até agora nas mídias sociais do chamado “dia da libertação” dos Estados Unidos, é que Trump e sua administração justificam, sob a pecha de protecionismo do mundo, a imposição de tarifas comerciais unilaterais, o que na verdade é uma política protecionista que vem desde o governo Trump 1.0, não foi anulada pelo governo Joe Biden e agora prossegue no governo Trump 2.0.

Para Lucas Ferraz, professor de economia da FGV/EESP, a questão chave da perda de empregos industriais nos Estados Unidos, desde a década de 1970, não se deve à questões como a importação dos mais diversos produtos chineses ao longo do tempo. No caso da China, ele estima que essa perda de empregos representa entre 20 a 25% do total perdido. No entanto, é bom lembrar que com a financeirização da economia americana, se tornou mais lucrativo aos donos de capital americanos deixar de produzir bens tangíveis em solo americano, como uma lâmpada, aço, alumínio, dentre outros bens, e direcionar essa produção para a “atrasada” e de salários aviltados – à época – China , enquanto eles multiplicavam seu dinheiro na ciranda financeira do neoliberalismo, que assim destruiu, aos poucos, parte das conquistas sociais conseguidas pelas parcelas mais pobres do povo americano, o que resultou em uma brutal concentração de renda, que segue esmagando os americanos mais pobres, e menos qualificados, até hoje.

Lucas Ferraz, no entanto, preferiu concentrar o foco da sua análise, sobre o tarifaço de Trump 2.0, no problema da automação crescente, que assim vem “roubando” empregos dos trabalhadores não tão qualificados. Esse movimento é chamado de Progresso Técnico Poupador de Trabalho.

Progresso Técnico Poupador de Trabalho, associado à redução de custos operacionais e à busca por maior rentabilidade, surgiu nas economias neoliberais como estratégia para manter taxas de lucro estáveis enquanto permitia aumentos salariais sem pressionar os custos produtivos. Nos Estados Unidos, essa dinâmica se materializou na terceirização em massa de setores industriais para países como a China, onde mão de obra barata, incentivos estatais e infraestrutura em expansão ofereciam vantagens competitivas. Ao longo das décadas, a China absorveu não apenas produção, mas também know-how tecnológico, evoluindo de “fábrica global” para líder em inovação na produção de semicondutores, veículos elétricos, baterias, energia solar, defesa, aeroespacial e outros setores chave. Esse salto transformou o país na principal ameaça à hegemonia industrial dos EUA, com um superávit comercial recorde de US$ 1 trilhão em 2024. A resposta dos Estados Unidos, sob Donald Trump, tem sido barreiras tarifárias agressivas (como taxas de 20% a 100% sobre produtos chineses e 10% sobre produtos brasileiros), visando “repatriar” empregos e reindustrializar o país. No entanto, a dependência de empresas norte-americanas de tecnologias chinesas — como parcerias da Ford e Tesla com a CATL para baterias — revela a complexidade de se tentar reverter quatro décadas de integração globalizada, mesmo com medidas protecionistas.

Assistam ao excelente vídeo do professor Ferraz. É esclarecedor. Ele acredita que Trump está no caminho errado. A política protecionista de Trump levará à diminuição da atividade econômica, haverá aumento de inflação e perda de empregos. Para complicar ainda mais, Donald Trump manifestou sua intenção de isentar do imposto de renda os americanos que ganham até 150 mil dólares por ano.

Vejam…Se a intenção de Musk, com a benção de Trump, é a de cortar gastos com a máquina pública e, certamente, gastos sociais, por que a governança Trump iria propor renunciar à arrecadação de impostos? Provavelmente haverá algum mecanismo compensatório de forma a eliminar ou reduzir, de forma substancial, os dispêndios anuais com os trabalhadores aposentados e com os mais vulneráveis economicamente. Nós estamos falando que, só com a seguridade social o dispêndio para 2025 é estimado em US$ 1 trilhão, Há ainda o Medicare, o Benefício de Prestação Continuada (SSI) e os Programas de Combate à Pobreza. Esses programas são fundamentais para o bem-estar social, mas também representam desafios fiscais significativos, devido ao envelhecimento da população e ao aumento dos custos médicos. Juntos, eles pressionam o orçamento federal, que em 2025, está projetado em cerca de US$ 7,26 trilhões.

Essas iniciativas fazem parte de um conjunto mais amplo de políticas econômicas promovidas pelo governo Trump, o que deve agravar o já caótico déficit público, aumentar o aperto fiscal e, com isso, sobrar muito menos recursos para investimentos positivos à retomada da atividade industrial perdida. Outro fator é que voltar a produzir aço, alumínio, navios, nos Estados Unidos, requer vários anos de intenso trabalho. Isso não se consegue com uma canetada, e irá muito além da governança Trump 2.0. Será que é por isso que, mal começado o seu governo, ele fala em um terceiro mandato?

Já a vergonhosa figura do ex-presidente, inelegível, Jair Bolsonaro, adepto ferrenho do Trumpismo, se apressou em se posicionar à favor das tarifas de Trump. É isso mesmo. Ele apoia a política de Trump de taxar os produtos brasileiros, prejudicar a nossa economia, o que deve resultar em perda de empregos no Brasil. Belo patriota (sic).

Lembro bem, com vergonha enquanto brasileiro, de Bolsonaro “jurando” a bandeira americana. Humilhante para quem de fato é patriota. E agora mais essa. Enfim. Deplorável.

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