Recentemente, novas acusações reacenderam os debates sobre a destruição dos gasodutos Nord Stream 2, um dos maiores projetos de infraestrutura energética da Rússia, conectando o país à Alemanha e fornecendo gás natural à Europa. O jornalista investigativo americano Seymour Hersh publicou um artigo afirmando que o governo dos Estados Unidos, sob a administração Biden, seria responsável pelo ataque que destruiu os gasodutos em setembro de 2022. Segundo Hersh, a decisão de sabotar o Nord Stream 2 foi tomada pelo presidente Biden em dezembro de 2021, com o plano sendo executado por uma força-tarefa que envolvia a CIA, os departamentos de Estado e do Tesouro, além de colaboração com o governo da Noruega.

Publicado em 18/11/2024, 10:55h

De acordo com a investigação de Hersh, durante exercícios militares da OTAN em junho de 2022, mergulhadores da Marinha dos EUA teriam plantado explosivos nos gasodutos, que foram detonados remotamente três meses depois. Embora o governo dos Estados Unidos e a Ucrânia neguem categoricamente essas acusações, classificando-as como “pura ficção”.

Os Estados Unidos há muito mantêm um controle estratégico sobre os países da Europa Ocidental por meio da proteção militar fornecida pela OTAN, usando a aliança como uma forma de garantir sua influência no continente, e projetar o seu poder militar além do Atlântico.

Washington estava insatisfeito com o fato de o governo alemão ter negociado e construído, em parceria com a Rússia, o gasoduto Nord Stream 2. Para os EUA, o projeto tornaria a Alemanha – e por extensão toda a Europa – excessivamente dependente do gás russo, o que reduziria a relevância estratégica dos Estados Unidos no mercado energético europeu e inviabilizaria a venda do caro gás liquefeito americano, que não conseguiria competir em preço com o gás russo.

O gás natural produzido nos Estados Unidos por meio do fraturamento hidráulico em depósitos de xisto (shale gas) apresenta um custo significativamente mais elevado em comparação com o gás natural extraído na Rússia, principalmente devido à complexidade do processo de extração por fraturamento hidráulico, que é extremamente poluidor, consume muita energia e apresenta custos logísticos elevados, especialmente para o transporte em forma liquefeita (GNL) para os mercados estrangeiros, como o da Europa.

A Rússia se destacou, historicamente, como fornecedor confiável de gás natural a preços competitivos para a Europa, especialmente para a Alemanha, através de gasodutos diretos como o Nord Stream. A parceria entre a Federação Russa e a Alemanha, no setor energético, era de mais de 50 anos. A oferta acessível de energia foi um dos principais pilares do sucesso econômico alemão, permitindo que o país mantivesse custos reduzidos de produção industrial. O gás barato impulsionava setores-chave como o químico, siderúrgico e automotivo, consolidando a Alemanha como a maior potência econômica e industrial da Europa e uma das maiores economias do mundo. Em 2022, após a interrupção do fornecimento de gás pela Rússia à Europa tudo mudou. Os preços do gás natural na atingiram níveis recordes, chegando a ser negociado a US$ 70.00 por milhão de unidades térmicas britânicas (MBtu), aproximadamente sete vezes mais altos que os preços dos GNL importado dos EUA.

A Alemanha, durante décadas, se beneficiou do fluxo confiável do gás russo barato, o que impulsionou sua produção industrial e desenvolvimento econômico. Com a interrupção desse fornecimento, o país enfrentou desafios significativos. Em 2023, a economia alemã encolheu 0,3%, em parte devido à perda do gás russo, que era fundamental para o desempenho de sua indústria. Esse ano a Alemanha deve continuar em recessão em sua economia.

Outro ator que se opunha ao Nord Stream 2 era a Ucrânia. O gasoduto representava uma ameaça direta às receitas que o país obtinha com o trânsito do gás russo por outros gasodutos que cruzam seu território. A conclusão do Nord Stream 2 permitiria à Rússia contornar a Ucrânia, prejudicando severamente sua economia e enfraquecendo ainda mais sua posição política na região.

Nesse contexto, o ex-presidente Donald Trump, em uma declaração recente, reivindicou um papel central em bloquear o gasoduto durante seu mandato, alegando que sua administração conseguiu paralisar o projeto antes mesmo de sua conclusão. Trump também aproveitou para criticar a administração Biden, destacando a suspensão do gasoduto Keystone como um erro estratégico.

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Trump em sua declaração destacou que o gasoduto Nord Stream 2 foi “o maior projeto já realizado pela Rússia”. Ele revelou que aconselhou contra “certas ações, mas decisões consideradas ruins foram tomadas”. Em seguida, mencionou John Bolton, a quem ironicamente chamou de “idiota” e “muito estúpido”. Trump explicou que escolheu Bolton para um cargo importante porque acreditava que sua postura agressiva poderia ser útil para negociações. Porém, para ele, Bolton é obcecado por guerras, a ponto de querer um confronto militar até mesmo por incidentes menores, como o abatimento de drones baratos.

Um dos marcos de sua administração, segundo Trump, foi sua decisão de interromper o Nord Stream 2. Ele afirmou categoricamente: “Eu matei o Nord Stream 2. Ninguém mais teria feito isso.” Ele explicou que o projeto estava parcialmente concluído quando ele conseguiu barrá-lo, algo que, em sua visão, ninguém mais teria coragem de fazer.

Trump criticou o governo Biden, afirmando que, enquanto ele bloqueou o Nord Stream 2, Biden paralisou o Keystone, que Trump considerava crucial para o desenvolvimento energético dos EUA. Ele questionou a lógica por trás disso: “Estamos protegendo a Alemanha da Rússia, mas eles pagam bilhões de dólares à Rússia por petróleo. Como isso faz sentido?” É uma lógica, no mínimo curiosa, a de Trump.

Trump disse ainda que foi alvo de acusações infundadas, como a de ser chamado de “fantoche da Rússia”. Ele rebateu as críticas com ironia, dizendo que, se ele fosse mesmo um fantoche, não teria interrompido o maior projeto econômico da Rússia. Para ele, bloquear o Nord Stream 2 foi uma das decisões mais importantes de seu governo.

Apesar da retórica de Trump, a verdade é que o gasoduto Nord Stream 2 estava para entrar em operação comercial quando, por pressão da administração Joe Biden, começaram os problemas relacionados à certificação do gasoduto, uma cara parceria entre empresas Alemães e Russas, e depois a sabotagem, que teria por responsáveis os Estados Unidos em conluio com a Noruega.

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