Publicado em 06/11/2024, 19:02h
Em 1º de novembro o presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou apoio à candidata democrata Kamala Harris nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, destacando que sua vitória seria mais segura para fortalecer a democracia.
Naquele momento, as pesquisas indicavam uma disputa acirrada entre Harris e o ex-presidente Donald Trump. Por exemplo, uma pesquisa do “The New York Times” mostrava ambos com 48% das intenções de voto. Além disso, uma análise do “FiveThirtyEight” apontava Harris com 47,9% e Trump com 46,8%, uma diferença de apenas 1,1 ponto percentual.
A declaração de Lula pode ser vista como uma manifestação de apoio a valores democráticos, considerando que ele já havia criticado Trump anteriormente. No entanto, do ponto de vista estratégico, tal posicionamento poderia ser considerado arriscado, dado o papel significativo dos Estados Unidos como segundo maior importador de produtos brasileiros e a importância dos investimentos americanos no Brasil.
Com a vitória de Trump em 5 de novembro, conforme previsto por alguns analistas, a declaração de Lula pode ser interpretada como politicamente sensível, potencialmente afetando as relações diplomáticas e econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos. Entretanto, como não poderia ser diferente, Lula parabenizou Trump pela vitória através do X. Um gesto apaziguador mas que, nem de longe garante, que as relações entre os dois líderes não serão meramente protocolares.
A esperada política protecionista de Donald Trump pode afetar os negócios brasileiros, especialmente se ele implementar tarifas de importação ou restrições comerciais que reduzam o acesso de produtos brasileiros ao mercado americano. O protecionismo de Trump tem foco em incentivar o consumo de produtos americanos e reduzir a dependência de importações, o que pode prejudicar países exportadores como o Brasil em setores como o agronegócio, aço, alumínio e manufaturados.
Para o Brasil, um impacto direto seria o aumento das tarifas sobre produtos agrícolas, como soja, carne e café, que são alguns dos principais produtos exportados para os Estados Unidos. Além disso, empresas brasileiras com operações nos EUA poderiam enfrentar desafios regulatórios e barreiras para expandir suas atividades.
Essas medidas podem levar o Brasil a buscar alternativas, fortalecendo acordos comerciais com outros países, como China e União Europeia, ou intensificando as relações comerciais com parceiros na América Latina. No entanto, uma política protecionista dos EUA pode limitar a diversificação de mercados e reduzir o crescimento das exportações brasileiras, o que, em última análise, impactaria o desempenho econômico do país.
Um posicionamento mais pragmático de Lula no cenário internacional pode realmente beneficiar o Brasil, fortalecendo sua posição como um “fiel da balança” entre blocos como o BRICS e o Ocidente, particularmente os Estados Unidos e seus aliados. Este equilíbrio estratégico permitiria ao Brasil aproveitar oportunidades econômicas e políticas de ambos os lados, ampliando o acesso a mercados e atraindo investimentos diversificados.
Entretanto um pragmatismo econômico-político requer menos retórica ideológica e uma postura que priorize os interesses nacionais, demonstrando abertura tanto aos parceiros dos BRICS quanto aos países ocidentais. Isso implicaria reforçar a presença brasileira em fóruns internacionais e tratados comerciais de maneira neutra e calculada, como um ator disposto a mediar interesses divergentes. Esse tipo de postura ajudaria a:
- Diversificar o Comércio e Investimento: Manter boas relações com os EUA e a União Europeia, além dos BRICS, permitiria ao Brasil acessar mercados e atrair investimentos em setores estratégicos, como infraestrutura, tecnologia e agronegócio.
- Mitigar Riscos de Conflitos Comerciais: Estar bem posicionado com diferentes blocos pode ajudar o Brasil a evitar sanções econômicas e barreiras comerciais, além de garantir alternativas caso o protecionismo de algum parceiro aumente.
- Aumentar a Influência Geopolítica: O Brasil poderia se firmar como um ator de relevância, atuando na mediação de questões como mudanças climáticas, segurança alimentar e paz regional. Esse papel diplomático é importante para garantir que interesses econômicos e políticos nacionais sejam respeitados globalmente.
Esse pragmatismo exige uma diplomacia eficiente e uma comunicação clara, reforçando que o Brasil busca ser um parceiro de confiança para diversas nações, sem alinhar-se de forma exclusiva a qualquer bloco.
O veto do Brasil à entrada da Venezuela no BRICS durante a reunião em Kazan gerou tensões diplomáticas significativas. A Venezuela classificou a ação como uma “agressão” e um “gesto hostil”. Além disso, aliados estratégicos do Brasil, como Rússia, China e Irã, que reconheceram a reeleição de Nicolás Maduro, podem interpretar o veto como um desalinhamento nas relações multilaterais.
Essa decisão também pode afetar as relações bilaterais com a Venezuela, especialmente considerando o contexto internacional delicado. A exclusão da Venezuela do BRICS pode ser vista como uma oportunidade perdida para fortalecer laços regionais e promover a cooperação econômica e política na América Latina.
Portanto, o veto pode ser considerado um erro estratégico, pois não apenas desagrada parceiros fundamentais, mas também abre disputas desnecessárias com a liderança venezuelana em um momento crítico no cenário internacional.
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