Publicado em 31/10/2024, 20:10h
Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, enfrenta uma situação complexa para manter sua posição como principal figura da direita brasileira. Com sua inelegibilidade definida até 2030, resultado de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e sob diversas investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro encara uma série de desafios legais e políticos que ameaçam sua liderança e o futuro do bolsonarismo no cenário político nacional.
As investigações abrangem questões graves, incluindo sua suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado e outros alegados crimes relacionados à sua conduta enquanto estava no cargo e após o término de seu mandato. A base dessas investigações são declarações, atos e possíveis vínculos que Bolsonaro manteve com apoiadores radicais, além de acusações de divulgação de desinformação e incitação a comportamentos antidemocráticos. Esses processos somam-se às dificuldades que o ex-presidente enfrenta para unir e mobilizar a direita brasileira em um momento de transição e adaptação.
Mesmo sem a possibilidade de se candidatar a cargos públicos até o final da década, Bolsonaro ainda tenta manter-se influente através de sua presença nas redes sociais e do apoio de uma base fiel de seguidores, que o veem como uma figura carismática e um símbolo contra o establishment. Ele procura fortalecer a nova geração de políticos que o cercam e que compartilham sua visão, apostando em uma “sucessão política” que possa representar seus interesses e preservar seu legado.
A postura de Bolsonaro, entretanto, pode representar um risco para a direita, que começa a questionar se ele é a figura ideal para liderar o movimento nos próximos anos. Com o avanço das investigações e o risco de possíveis novas condenações, o ex-presidente encara a necessidade de reavaliar sua estratégia e ponderar como continuará exercendo sua influência enquanto enfrenta as pressões legais e os desafios de sua inelegibilidade.
Em duas ótimas análises sobre Bolsonaro e o momento atual o jornalista Tales Faria mostra o que, de fato, rola nos bastidores da política em Brasília.
Na primeira análise, Tales fala da cara de pau do ex-presidente em ir ao congresso nacional pedir anistia, apelando de forma patética para que o PT faça essa proposição e que Lula tenha “bom coração” e abrace a ideia, já que foi enterrada pelo presidente da câmara Artur Lira a proposição da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do projeto de anistia. Lira, ao criar uma comissão para debater o assunto – e todos nós sabemos que quando se quer “enterrar um assunto” se cria uma comissão de estudo – abortou a proposta que pretendia livrar os golpistas do 08 de janeiro, livrando Bolsonaro, militares e financiadores, caso fosse a plenário para ser votado e aprovado. O que, aparentemente de nada adiantaria, face que já houve manifestação do STF de que tal anistia seria ilegal. Vamos aos comentários de Tales.
Fabíola Cidral : “Vamos começar com você, Tales. Ele quer que o Lula seja o pai da anistia, que o Lula dê anistia. Existe alguma possibilidade disso acontecer? E a situação é assim mesmo. Ele vai lá, Bolsonaro, negociar, pedindo a cara de pau mesmo. Eu quero anistia, eu quero ser liberado de tudo isso. É assim mesmo, descarado?”
Tales Faria: “Vamos por partes. Primeiro, ele agora, não foi bem o que ele está dizendo, ele está dando a entender que ele deu aval para esse negócio de adiar, criar uma comissão que vai adiar a discussão da anistia, como nas comissões brasileiros costumam fazer. Sabe-se lá quando vai para as calendas. Ele na verdade teve que aceitar isso. Isso aliás eu disse ontem no análise da notícia.
O Bolsonaro teve que aceitar isso porque saiu fraco das eleições municipais. Então ele aceitou que vamos adiar a discussão sobre anistia que ele tinha colocado como um condicionante.
Assim, como o Lula está dizendo que não participou da discussão, que não está participando da eleição para o presidente da Câmara, o Bolsonaro agora enfraquecido, diz que não, eu dei aval para adiarem, para tirarem a anistia da discussão sobre a presidência da Câmara. Deu aval nada, ele estava fraco e ninguém agora no Congresso está muito afim de dar anistia para Bolsonaro.
O Bolsonaro na eleição mostrou que é capaz de trair até o Valdemar, até o PL, o partido dele, traiu a direita toda, traiu o Caiado, traiu o Ratinho, traiu o Nunes, traiu o Marçal, traiu todo mundo, todo mundo. Então, ele agora, ninguém está pensando o seguinte, vamos deixar o Bolsonaro ainda ser uma peça importante do jogo? Por isso a Anistia dançou, e ele teve que deixar para lá. Tanto foi que ontem, ao dar essa entrevista, enquanto dava essa entrevista, o senador astronauta foi ao plenário do Senado lançar a candidatura dele a presidente do Senado. O Bolsonaro, dentro da entender que estava fechando acordo com Alcolumbre. Então, eu vou apoiar a Alcolumbre, tal, tal, tal. E o astronauta dele no plenário, lançando a candidatura a presidente do Senado. Quer dizer, o Bolsonaro hoje é uma carta enfraquecida, quase invisível no baralho da política, inclusive da direita. E está fazendo a mesma coisa que o Lula, dando a entender que deu o aval e o Lula dizendo que não participou. Todos os dois estão fazendo teatro.
Agora, quanto ao Lula dar aval à anistia futuramente, o que o Lula declarou há algum tempo atrás foi que tem que haver uma avaliação do processo, tem que chegar ao final do processo dos golpes de Estado contra todos, saber o envolvimento de cada um, e a partir daí a gente discute, e é um fato. Não dá para discutir agora a anistia se nem foi finalizado o processo. Não é possível. Vai ter que finalizar o processo, ver quem são os mandantes. Depois de saber dos mandantes e do comprometimento de cada um, aí a sociedade avalia.
Vem cá! O Bolsonaro é o mandante, está comprovado, foi condenado há tantos anos. Vale a pena? O general tal, o almirante tal, falou que estava disposto a pegar em armas. Vale a pena dar anistia para alguém que está disposto a pegar em armas? Vale a pena um general que saiu mandando a turma para a porta dos quartéis, dar anistia a esse general, é a discussão que a sociedade vai ter que ter depois que terminar o processo. E é o que o Lula falou. Só depois de terminar o processo, a gente pode discutir. Aí eu admito até discutir.
Nessa segunda análise Tales continua a sua análise sobre a atual irrelevância de Bolsonaro.
Fabíola Cidral: “Essa política é feita dessa maneira.
Ontem, Bolsonaro, ele também, a ida dele ao Senado, como você mesmo disse, em relação ao fracasso dele nas urnas em 24, agora nessas eleições municipais, ele foi lá querer mostrar o seu papel, marcar território, foi marcar território no Senado brasileiro. E aí ele falou sobre a disputa, falou sobre 2026 e falou que ele continua lá sendo um dos líderes da direita, não com essas palavras, mas nós vamos ouvir o que disse Bolsonaro ontem também no Senado.”
Bolsonaro: “Presidente. Existe uma corrente da direita que diz que pode haver uma direita sem Jair Bolsonaro. O senhor acredita que isso é piada?
Já tentaram várias vezes, não conseguiram. Esses caras juntam quantas pessoas no aeroporto num bate-papo em qualquer lugar do Brasil. Se sabe, não sabe a linguagem do povo. Isso é uma utopia. Utopia. Todos que tentaram se arvorar como líder através de likes ou de lacrações não chegou a lugar nenhum. São conhecidos atualmente como estrategistas intergalácticos.”
Fabíola Cidral: “Estrategistas intergalácticos. Vamos lá, é utopia uma direita sem Bolsonaro, Tales? Pelo que a gente viu aí, outras lideranças da direita aparecendo por aí. Como é que você analisa essa fala do presidente Bolsonaro, foi? Ele foi marcar território lá ontem?”
Tales Faria: “Pois é, ele tá em desespero, ele foi lá em desespero. Porque a situação dele é desesperadora depois das eleições municipais. As eleições municipais mostraram exatamente isso. Existe uma direita sem o Bolsonaro. Sem o Bolsonaro. Não é utopia. Aliás, é o contrário. A distopia seria a continuidade do Bolsonaro. Não há utopia em a direita ter candidato sem o Bolsonaro. Já está claro que existem vários candidatos colocados e isso está levando ele ao desespero. Ele fala em astronômica, estava lá o astronauta desobedecendo os acordos que ele disse que estava fazendo para o Alcolumbre, que ninguém no Senado precisa de acordo do Bolsonaro para eleger o Alcolumbre, o Alcolumbre está eleito com apoio da direita toda. Toda no Senado, e se o Bolsonaro não for, o Alcolumbre é eleito assim mesmo, ele sabe disso. Aí ele vai lá dizer, ó, estou apoiando.
Só que o astronauta, esse sim, no espaço, foi lá e lançou a candidatura dele à presidência do Senado. O astronauta bolsonarista, desobedecendo ao próprio Bolsonaro. Quer dizer, completamente fora do ar. O Bolsonaro ainda está trabalhando com a Terra plana. Ele precisa entender que o mundo voltou a ser redondo. Depois que ele perdeu as eleições, foi condenado à inelegibilidade, traiu todo mundo nas eleições municipais, foi derrotado, o mundo está voltando a ser redondo. E essa turma da Terra Plana está perdendo o prumo.
Fabíola Cidral: “Antônio Baldi fala, olha, o Bolsonaro diz que a direita sem ele é uma utopia, mas ele acredita que a direita sem Bolsonaro será uma direita limpa, sem vícios extremistas. E vai ser uma direita bem melhor sem Bolsonaro na avaliação aqui do Antônio Baldi.
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