18 de abril de 2023, 17:39h
A Igreja Universal do Reino de Deus está enfrentando uma série de processos na justiça por causa de denúncias de ex-pastores que foram submetidos a cirurgias de vasectomia em massa, até mesmo em fazendas. A imposição da vasectomia é conhecida por quem acompanha a igreja, mas o volume de processos e depoimentos de pastores e pessoas ligadas à IURD mostram que as condições nas quais os exames foram feitos não são ideais, e não seguem a legislação ou as recomendações da classe médica.
Um dos casos mais emblemáticos foi o de um ex-pastor que atuava em Itapevi, na Grande São Paulo. Ele ganhou uma ação na Justiça do Trabalho contra a IURD, depois que a igreja o obrigou a fazer uma vasectomia para ser promovido a bispo na África. Segundo a igreja, o cargo exigiria muita dedicação e o pastor não poderia ter filhos. O homem fez a cirurgia, mas sua esposa queria ser mãe e acabou pedindo o divórcio. A Justiça qualificou a conduta da igreja como reprovável e deu ganho de causa ao ex-pastor, que recebeu uma indenização de R$ 100 mil.
Os relatos de ex-pastores também apontam que as cirurgias eram realizadas em consultórios médicos sem as condições adequadas, e sem o consentimento informado dos pacientes. Alguns pastores foram submetidos à vasectomia sem sequer saber do que se tratava o procedimento. Além disso, a igreja usava a ameaça de demissão ou transferência para convencer os pastores a fazerem a cirurgia.
Outra denúncia feita por ex-pastores é que Edir Macedo, fundador da IURD, não admite que os pastores tenham filhos. Isso estaria ligado à ideia de que a dedicação total à igreja é incompatível com a paternidade. Os ex-pastores relatam que, em alguns casos, foram demitidos depois que suas esposas engravidaram.
As denúncias de ex-pastores têm causado um grande impacto na imagem da Igreja Universal do Reino de Deus, que já enfrenta outras acusações de desvio e lavagem de dinheiro. O Ministério Público tem investigado a igreja e o próprio Edir Macedo, que é acusado de enriquecimento ilícito, e de usar a igreja para fins pessoais.
Algumas das acusações contra a Igreja Universal do Reino de Deus
Existem várias acusações de desvio e lavagem de dinheiro por parte da Igreja Universal do Reino de Deus, ao longo dos anos. Algumas das mais notáveis incluem:
- Em 2009, o Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro acusou a igreja de enviar ilegalmente US$ 13,4 milhões ao exterior. A acusação alegou que a igreja utilizou contas bancárias falsas para enviar o dinheiro para os Estados Unidos e, em seguida, para o Uruguai.
- Em 2017, a Polícia Federal brasileira abriu uma investigação sobre supostas irregularidades financeiras na Igreja Universal do Reino de Deus. A investigação alegou que a igreja havia desviado dinheiro para contas bancárias no exterior, e que estava envolvida em esquemas de lavagem de dinheiro.
- Em 2020, uma reportagem do jornal britânico The Guardian alegou que a Igreja Universal do Reino de Deus estava envolvida em um esquema de lavagem de dinheiro na Inglaterra. A reportagem alegou que a igreja havia transferido mais de £ 20 milhões para a Inglaterra nos últimos dois anos, e que havia usado empresas de fachada para esconder a origem do dinheiro.
- Em 2021, o MPF do Rio de Janeiro acusou a Igreja Universal do Reino de Deus de desviar mais de R$ 1 bilhão em doações de fiéis. A acusação alegou que a igreja havia criado empresas de fachada para receber doações, e que o dinheiro desviado foi utilizado para enriquecimento ilícito de líderes da igreja.
- Em 2019, o governo de Angola acusou a Igreja Universal do Reino de Deus de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. As autoridades angolanas alegaram que a igreja havia transferido ilegalmente mais de US$ 100 milhões para o exterior, e que havia criado empresas de fachada para ocultar a origem do dinheiro.
- Em 2020, a Justiça de São Tomé e Príncipe abriu uma investigação sobre a Igreja Universal do Reino de Deus, por suspeita de lavagem de dinheiro. As autoridades locais alegaram que a igreja havia transferido dinheiro para São Tomé e Príncipe sem declará-lo às autoridades fiscais.
- Em 2021, a imprensa moçambicana relatou que a Igreja Universal do Reino de Deus havia sido proibida de operar no país devido a acusações de desvio e lavagem de dinheiro. As autoridades moçambicanas alegaram que a igreja havia transferido dinheiro para o exterior sem declará-lo às autoridades fiscais, e que havia criado empresas de fachada para ocultar a origem do dinheiro.
- Em Portugal, a Igreja Universal do Reino de Deus foi acusada de desvio de dinheiro em 2017, quando o Ministério Público abriu uma investigação sobre alegações de que a igreja teria enviado, pelo menos, 15 milhões de euros para o Brasil sem declarar à autoridade tributária. Além disso, em 2019, o jornal português Expresso reportou que a igreja teria transferido 5,5 milhões de euros para offshores em Belize e nas Ilhas Virgens Britânicas.
- Nos Estados Unidos, em 2021, a Igreja Universal do Reino de Deus foi acusada de lavagem de dinheiro em uma ação civil apresentada pelo Departamento de Justiça. Segundo a ação, a igreja teria desviado, pelo menos, 2 milhões de dólares em doações destinadas a programas sociais para fins pessoais dos líderes da igreja, incluindo a compra de imóveis de luxo em Miami. A ação também alega que a igreja usou empresas de fachada para ocultar a origem dos fundos e evitar a detecção das atividades ilegais.
É importante ressaltar que essas são apenas algumas das acusações que foram feitas contra a Igreja Universal do Reino de Deus ao longo dos anos, e que nenhuma delas foi comprovada em juízo. A igreja nega todas as acusações e afirma que sempre atua dentro da lei.
Ex-pastores denunciam igreja
Assim como Lima, vários outros ex-pastores têm levado a IURD aos tribunais e à imprensa com acusações semelhantes. Segundo os relatos, as sessões de vasectomia contam com até 30 cirurgias realizadas de uma só vez. Essas operações em massa podem ser realizadas em clínicas médicas populares, consultórios de dentistas, escritórios da própria igreja, templos, emissoras de rádio e fazendas. Os ex-pastores acusam a igreja de tratar o procedimento como obrigatório, mas sem seguir os protocolos médicos adequados, muitas vezes utilizando equipamentos inadequados.
As clínicas que realizaram ou ainda realizam procedimentos para a Igreja Universal começaram a ser notificadas pelo Judiciário para fornecer os prontuários dos pacientes. O Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro exigiu que a Serviços de Cirurgia Geral Norte, localizada no bairro do Méier e apontada como uma das principais clínicas da IURD na capital fluminense, fornecesse os prontuários de Jonathas Costa Azeredo, Ivo Francisco de Sá Júnior e Luciano Garibaldo, todos ex-pastores, sob pena de incorrer em crime de desobediência no caso de não entrega.
Os prontuários foram entregues e, além desta clínica, há outras que são apontadas como os principais centros de vasectomia da IURD, como o Centro Médico Neomater em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. No entanto, não foram apenas clínicas envolvidas. Luis Alberto Santos Bispo, que foi pastor da IURD por 17 anos, afirmou que nos anos 1990 e no início dos anos 2000, as vasectomias eram realizadas em “locais diversos sem nenhum cuidado”.
Santos Bispo foi obrigado a realizar o procedimento no Centro Médico Garibaldi, em Salvador, há 13 anos, e afirma que “hoje, pastor solteiro só casa se fizer a cirurgia. Muitos colegas fizeram a vasectomia na antiga Rádio Bahia, na Ladeira dos Aflitos, onde funciona uma empresa de segurança da Universal. E ouvíamos relatos do pessoal mais antigo sobre cirurgias em fazendas no interior do estado”.
‘Motivação’ e condições para a vasectomia
Um pastor, cuja identidade não foi divulgada pela imprensa, afirmou ter realizado uma vasectomia em 1999 no Centro Médico Neomater, em São Bernardo do Campo. Ele disse que outros pastores que se recusassem a passar pela cirurgia seriam relegados a funções menos “exaltadas” dentro da Universal, como motoristas em emissoras de rádio e TV, garagistas ou faxineiros. Essas acusações foram apresentadas ao Ministério Público em setembro do ano passado.
“Os pastores só podem se casar depois de fazer a cirurgia, porque o bispo Edir Macedo não admite que os pastores tenham filhos, exceto alguns membros da cúpula da igreja. Fui pressionado e aterrorizado por horas para fazer a cirurgia”, declarou o pastor.
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