Texto original da Sputnik News
09 de fevereiro de 2023, 15:45h
Se trata a reportagem da denúncia de uma meticulosa e deliberada conspiração planejada e levada à efeito pelos Estados Unidos, com a ativa e fundamental participação da Noruega, de forma a privar, através de táticas de terrorismo de estado, a Rússia de vender cada vez mais gás barato para a Europa, fortalecendo ainda mais a sua economia – e ainda inviabilizando as exportações de gás liquefeito americano para a Europa. A sabotagem, agora de autoria atribuída aos Estados Unidos, segundo a denúncia, teve ainda o intuito de prejudicar deliberadamente não somente a economia da Alemanha mas também as economias da maioria dos países europeus, submissos aos interesses dos Estados Unidos e dependentes para a sua defesa da OTAN, liderada pelos Estados Unidos.
Segundo o Jornalista investigativo americano Seymour Hersh, desde o início, os EUA e seus aliados, particularmente a Noruega, não viam de forma positiva a construção do Nord Stream 1 e 2. A decisão de sabotar os gasodutos se deu após meses de debates secretos dentro da comunidade de segurança nacional em Washington.
O renomado jornalista investigativo e ganhador do prêmio Pulitzer Seymour Hersh afirmou em um artigo intitulado “Como a América destruiu o gasoduto Nord Stream” que mergulhadores da Marinha dos EUA plantaram explosivos para destruir os gasodutos em questão no ano passado. Hersh escreveu que em junho do ano passado, durante um exercício da OTAN conhecido como BALTOPS 22, mergulhadores da Marinha dos EUA agiram sob cobertura e colocaram explosivos que três meses depois destruíram três dos quatro gasodutos.
De acordo com o jornalista, a sabotagem dos gasodutos pelo governo dos Estados Unidos foi resultado de “mais de nove meses de debates altamente confidenciais na comunidade de segurança nacional de Washington”. A missão levou tanto tempo pois a preocupação era realizá-la sem deixar evidências de quem seria o responsável, e não devido a uma falta de compromisso.
O jornalista afirma também que desde o início, o Nord Stream 1 era visto como uma ameaça pelos Estados Unidos e seus aliados da OTAN. Eles temiam que Putin teria uma importante fonte adicional de renda com os gasodutos em operação, e que a Alemanha e o resto da Europa se tornariam dependentes do gás natural barato fornecido pela Rússia.
Além disso, o Nord Stream 2 seria ainda mais perigoso, pois dobraria a quantidade de gás barato disponível para a Europa, enquanto as tensões entre a Rússia e a OTAN aumentavam constantemente devido à política externa agressiva do governo Biden.
O jornalista descreve que a oposição ao Nord Stream 2 intensificou-se antes da posse de Joe Biden, em janeiro de 2021. Os republicanos do Senado, liderados por Ted Cruz, levantaram a ameaça política do gás natural russo barato durante a audiência de confirmação de Antony Blinken como secretário de Estado. Naquela época, um Senado unificado havia aprovado com sucesso uma lei, que como Cruz afirmou a Blinken, “interrompeu o curso do gasoduto”.
Planejamento da Sabotagem
De acordo com Hersh, o planejamento para a sabotagem dos gasodutos começou em dezembro de 2021, dois meses antes da operação russa na Ucrânia. O Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, convocou uma reunião de uma força-tarefa envolvendo membros do Estado-Maior Conjunto, da CIA, e dos Departamentos de Estado e do Tesouro, e solicitou recomendações sobre como responder à operação russa.
Esta foi a primeira de uma série de reuniões ultra-secretas que ocorreram em uma sala segura no último andar do Old Executive Office Building, adjacente à Casa Branca, que também abrigava o Conselho Consultivo de Inteligência Estrangeira do Presidente (PFIAB). Segundo a fonte citada por Hersh, que tinha conhecimento direto do processo, ficou claro para os participantes que Sullivan pretendia que o grupo apresentasse um plano para a destruição dos dois gasodutos Nord Stream, e que ele estava cumprindo os desejos do presidente.
De acordo com o artigo, a Marinha americana propôs utilizar um submarino recém-comissionado para atacar diretamente o gasoduto, enquanto a Força Aérea considerou o lançamento de bombas com temporizadores que poderiam ser acionados remotamente. Já a CIA argumentou que qualquer ação precisaria ser mantida em segredo. Todos os envolvidos compreendiam o que estava em jogo e concordavam que uma ação rastreável aos EUA seria considerada um ato de guerra.
No início de 2022, o grupo de trabalho da CIA apresentou seu relatório ao grupo interagências de Sullivan, dizendo que tinham uma maneira de destruir os gasodutos. Em 7 de fevereiro, pouco menos de três semanas antes da operação na Ucrânia, Biden se reuniu com o chanceler alemão Olaf Scholz, que agora estava ao lado dos EUA. Durante a coletiva de imprensa subsequente, Biden afirmou desafiadoramente que se a Rússia invadisse, não haveria mais um Nord Stream 2 e eles iriam acabar com isso.
Com o anúncio de Biden, Hersh afirma que algumas das pessoas envolvidas no planejamento da missão ficaram surpresas com a menção indireta ao ataque, já que a ideia era agir após a invasão e não fazer anúncios públicos. Biden simplesmente não compreendeu ou ignorou a situação, de acordo com uma fonte citada pelo jornalista.
De acordo com Hersh, a Noruega foi selecionada pelos Estados Unidos como o local para a implementação de seu plano. Nos últimos anos, a presença militar americana na Noruega aumentou significativamente, resultando em empregos e contratos lucrativos, apesar de alguma controvérsia local. O Pentágono investiu grandes quantias de dinheiro para renovar e ampliar suas instalações na Força Aérea e Marinha norueguesas.
Atualmente, o chefe da OTAN é Jens Stoltenberg, um fervoroso anticomunista que anteriormente serviu como primeiro-ministro da Noruega por oito anos. Ele foi apoiado pelos Estados Unidos para sua posição atual na OTAN em 2014. Stoltenberg é uma figura severa no que diz respeito a Putin e à Rússia, e tem trabalhado com a inteligência americana desde a Guerra do Vietnã. Ele tem sido confiável para os Estados Unidos desde então, sendo descrito como “a luva perfeita para a mão americana” por uma fonte informada.
Em algum momento de março passado, membros da equipe americana viajaram para a Noruega para se reunir com o Serviço Secreto e a Marinha do país. Um dos assuntos principais era encontrar o melhor local no Mar Báltico para plantar explosivos.
A Marinha norueguesa agiu rapidamente para identificar o local ideal, nas águas pouco profundas do Mar Báltico, próximo à ilha dinamarquesa de Bornholm.
A equipe responsável pela missão foi formada por mergulhadores da Cidade do Panamá, segundo Hersh. “Os mergulhadores mais habilidosos e experientes são uma comunidade selecionada e somente os melhores são convocados para trabalhar para a CIA em Washington”, afirmou.
Noruegueses e americanos já tinham posicionado seus agentes, mas havia uma preocupação adicional: qualquer atividade submarina incomum na região de Bornholm poderia chamar a atenção das Marinhas sueca ou dinamarquesa e denunciá-la.
No entanto, os noruegueses encontraram uma solução: todo ano, durante o mês de junho, a 6ª Frota Americana patrocinava um grande exercício da OTAN no mar Báltico, envolvendo dezenas de navios aliados. O exercício atual, conhecido como BALTOPS22, seria a cobertura perfeita para plantarem as minas.
Do lado americano, um elemento-chave foi fornecido: eles convenceram os planejadores da 6ª Frota a incluir um exercício de pesquisa e desenvolvimento no programa.
“O evento marítimo seria realizado na costa da ilha de Bornholm e envolveria equipes da OTAN de mergulhadores plantando minas e equipes rivais usando tecnologia subaquática avançada para encontrá-las e destruí-las. […] Os mergulhadores da Cidade do Panamá fariam seu trabalho e os explosivos C4 estariam no local ao final do BALTOPS22, com um cronômetro de 48 horas acoplado. Todos os americanos e noruegueses já teriam saído antes da primeira explosão”, afirmou Hersh.
Uma vez instalados, os dispositivos de cronometragem atrasados ligados aos quatro gasodutos poderiam ser acionados acidentalmente por meio da complexa mistura de barulhos oceânicos, incluindo o tráfego de navios próximos e distantes, perfurações subaquáticas, eventos sísmicos, ondas e até mesmo criaturas marinhas.
Para evitar esse problema, a boia de sonar, uma vez posicionada, emitiria uma série de sons tonais únicos de baixa frequência, semelhantes aos produzidos por um flautim ou piano, que seriam reconhecidos pelo dispositivo de cronometragem e, após um período predefinido de atraso, acionariam os explosivos.
Em 26 de setembro de 2022, um avião de vigilância da Marinha Norueguesa realizou um voou aparentemente comum e soltou uma boia sonar. O sinal se propagou abaixo da água, primeiramente para o Nord Stream 2 e depois para o Nord Stream 1.
Algumas horas mais tarde, explosivos de alta potência foram detonados e três dos quatro tubos de gás foram desativados. Em questão de minutos, manchas de metano que haviam permanecido nos tubos fechados puderam ser vistas se espalhando na superfície da água e o mundo descobriu que algo irreversível havia ocorrido.
“Logo após o ataque ao gasoduto, a mídia americana o classificou como um mistério não solucionado. A Rússia foi repetidamente mencionada como provável responsável, estimulada por vazamentos intencionais da Casa Branca – mas sem nunca esclarecer um motivo claro para tal ação de autossabotagem, além de uma simples retaliação”, escreveu o jornalista.
Embora nunca tenha ficado claro por que a Rússia tentaria destruir seu próprio lucrativo gasoduto, uma explicação mais reveladora para a ação de Biden veio do secretário de Estado, Blinken.
Interpelado em uma coletiva de imprensa em setembro passado sobre as consequências do agravamento da crise energética na Europa, Blinken descreveu o momento como potencialmente positivo.
“É uma grande oportunidade para finalmente remover a dependência da energia russa e, assim, privar Vladimir Putin da armação da energia como meio de avançar em suas aspirações imperialistas. Isso é muito significativo e oferece uma enorme oportunidade estratégica para os próximos anos”, disse Blinken, citado pelo jornalista.
O artigo da Sputnik News sobre o relato escrito por Hersh foi publicado dia 08 de janeiro. Mais tarde, segundo a Spunik, ele confirmou à Sputnik que o texto era de sua autoria e autêntico.
A porta-voz da Casa Branca, Adrienne Watson, negou as acusações e as descreveu como “mentirosas e completa invenção”.
Seymour Myron Hersh é um jornalista investigativo com mais de 50 anos de experiência e é detentor de vários prêmios, incluindo o Pulitzer de Reportagem Internacional, bem como os prêmios Polk e George Orwell. Ele se especializa em assuntos de geopolítica, atividades dos serviços secretos e questões militares dos Estados Unidos.