“Produzido com trabalho escravo”
02 de março de 2023, 12:40h
A deputada estadual Laura Sito está alertando consumidores e cobrando autoridades para punirem empresas que se beneficiaram de trabalho análogo à escravidão, desencorajando essa prática e conscientizando a população do problema. Ela requer que as autoridades responsabilizem as infratoras para preservação dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Na quarta-feira passada (1º de março), a deputada visitou um supermercado em Porto Alegre e colou adesivos em garrafas de vinho das marcas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, com os dizeres “produzido com trabalho escravo”. Estas três vinícolas gaúchas estão envolvidas no escândalo de trabalho análogo à escravidão na região da Serra Gaúcha.
Na última semana, 207 trabalhadores foram resgatados pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em Bento Gonçalves (RS). A investigação sobre o caso começou a partir de denúncias de que eles estavam em condições análogas à escravidão.
Esses trabalhadores haviam sido aliciados na Bahia com a promessa de receber um salário de R$ 3mil para trabalhar na safra da uva na Serra Gaúcha. Eles foram contratados por uma empresa terceirizada, que tinha contratos com essas três grandes vinícolas. Eles eram obrigados a se alojar em locais insalubres, sofriam com atrasos nos pagamentos, violência física, longas jornadas de trabalho e oferta de alimentos estragados. Além disso, não podiam sair do local por causa de “dívidas” impostas pelos patrões.
O dono da empresa terceirizada foi preso, o que levou o Ministério Público do Trabalho a apurar as responsabilidades das vinícolas Salton, Garibaldi e Aurora, que podem ser responsabilizadas criminalmente. As vinícolas alegam desconhecer as condições de trabalho dos empregados. Uma canalhice essa posição.
O número de casos de trabalho análogo à escravidão aumentou exponencialmente no Rio Grande do Sul, disse o coordenador de combate a esse crime da Superintendência Regional do Trabalho, Henrique Mandagará. Segundo ele, o Ministério de Trabalho tem registrado de 20 a 30 autuações por ano, porém, desde 2021 os números estão aumentando drasticamente. Em 2021, foram 69 casos registrados, 156 em 2022 e 207 até o início de 2023. O aumento foi de mais de 120%. O recorde foi batido após o resgate de 207 pessoas na sede da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde, empresa terceirizada, em Novo Hamburgo.
A indústria do vinho é muito importante para a nossa região, economicamente e culturalmente. Mas nosso vinho gaúcho, que é símbolo do nosso estado, não pode estar sujo com a mão do trabalho escravo. Exatamente por isso, nós não aceitamos. Chega de lucro com a escravidão”, disse Laura Sito ao fazer a ação de colagem dos adesivos no supermercado.
Vejam o chocante relato no vídeo: “Escravizados em vinícola no RS eram chicoteados e até retirados à força do banheiro”, diz secretário.