Braga Netto preso, Bolsonaro solto: dois pesos, duas medidas?

Por Política em Debate I Brasília

Em 23/05/2025, 17h45 I Leitura 2 min

Em 22 de maio de 2025, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu manter a prisão preventiva do general da reserva Walter Braga Netto, réu por tentativa de golpe de Estado em 2022. A decisão foi tomada após parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) pela manutenção da prisão. Segundo Moraes, a soltura de Braga Netto representaria risco à ordem pública e à instrução criminal, especialmente diante de depoimentos que apontam sua atuação para pressionar testemunhas contrárias ao plano golpista.

General Braga Netto e ex-presidente Jair Bolsonaro

Braga Netto está preso desde 14 de dezembro de 2024, após determinação do STF em resposta a representação da Polícia Federal. Ele é acusado de participar do núcleo central de uma organização criminosa que teria atuado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

Por outro lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, também réu no mesmo processo, permanece em liberdade. Em 26 de março de 2025, Bolsonaro tornou-se o primeiro ex-presidente brasileiro a virar réu sob a acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado. Apesar da gravidade das acusações, que incluem abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa armada, Bolsonaro não teve sua prisão decretada.

PF conclui que Bolsonaro liderou organização criminosa golpista

A Polícia Federal (PF) concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o líder de uma organização criminosa que planejou e tentou executar um golpe de Estado para mantê-lo no poder após sua derrota nas eleições de 2022. O relatório final, com 884 páginas, foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) e aponta que Bolsonaro “permeou por todos os núcleos” da organização, atuando diretamente na desinformação e ataque ao sistema eleitoral.

Segundo a PF, a organização criminosa era composta por diversos núcleos, incluindo:

  • Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
  • Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;
  • Núcleo Jurídico;
  • Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
  • Núcleo de Inteligência Paralela;
  • Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas.

O relatório destaca que Bolsonaro era o principal beneficiário da trama golpista.

A Estrutura dos Núcleos Golpistas e o “Grupo 03” sendo julgado pelo STF

A diferença de tratamento entre Braga Netto e Bolsonaro levanta questionamentos sobre os critérios adotados pelo STF para determinar a prisão preventiva dos réus. Enquanto o general é acusado de tentar obstruir as investigações e pressionar testemunhas, não há, até o momento, indícios de que Bolsonaro tenha adotado condutas semelhantes. No entanto, a manutenção de sua liberdade, mesmo diante das acusações graves, gera críticas e suspeitas de pressão política.

O tratamento dispensado em 2018 ao Presidente Lula

Luís Inácio Lula da Silva em depoimento na 13a Vara Federal – Curitiba (Brasil)

O sistema judicial brasileiro não teve a mesma consideração agora dada a Bolsonaro, quando comparado com o tratamento dispensado ao presidente Luís Inácio Lula da Silva, que foi conduzido de forma coercitiva e ilegal para depor em Curitiba, 13ª Vara Federal, sob comando do então juiz Sérgio Moro; sendo que àquela vara de justiça não cabia investigar os pretensos fatos – falsos como se provou – imputados ao presidente Lula, que foi vítima de lawfare judicial para tirá-lo da disputa presidencial de 2018.

Cabe ainda mencionar que inúmeros recursos judiciais do advogado de Lula, atual ministro do STF, Zanin, foram recusados não somente no STJ, mas pelo STF à época. Por exemplo, em outubro de 2020, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou, por unanimidade, sete recursos da defesa de Lula relacionados a desdobramentos das operações Lava Jato e Spoofing. Os recursos abordavam questões como a suspeição de autoridades envolvidas nos processos e a legalidade de provas apresentadas.

A defesa de Lula também enfrentou dificuldades no STF em junho de 2019, quando a Segunda Turma rejeitou um dos pedidos de habeas corpus apresentados pela defesa, e negou conceder liminar para soltar o ex-presidente. Lula era, à época, ex-presidente. Por que tanta severidade com Lula quando comparado à Bolsonaro?

Em março de 2016, a então presidente Dilma Rousseff nomeou Lula para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. A nomeação foi contestada judicialmente, sob a alegação de desvio de finalidade, argumentando-se que o objetivo seria conceder foro privilegiado a Lula e afastá-lo das investigações conduzidas pelo juiz Sergio Moro. O ministro Gilmar Mendes, do STF, concedeu liminar suspendendo a nomeação.

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