Publicado em 16/04/2025, 15:55h
Em tempos sombrios da política brasileira, a lógica parece ter sido colocada de cabeça para baixo. E é nesse cenário que se produziu uma cena inusitada: o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), bolsonarista de carteirinha, sair em defesa do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ), um dos mais combativos parlamentares da esquerda brasileira.
A fala do senador Cleitinho Azevedo causou histeria no meio bolsonarista. Durante seu discurso no plenário, Cleitinho criticou o relator do processo, Paulo Magalhães (PSD), por ter adotado uma postura diferente, em caso semelhante envolvendo Chiquinho Brazão, e afirmou que Glauber poderia ser punido com suspensão, mas não com cassação do mandato. Ele também destacou a injustiça de políticos como Brazão, acusado de envolvimento na morte de Marielle Franco, continuarem recebendo salários, enquanto Gluber enfrenta a cassação.

O gesto de Cleitinho, amplamente divulgado nas redes sociais e destacado pelo Diário do Centro do Mundo, surpreende não apenas pelo conteúdo, mas pelo autor. Trata-se de alguém alinhado a um projeto de poder que, historicamente, alimenta o autoritarismo, o ataque à oposição e o desprezo pelas instituições democráticas. Ainda assim, nesse episódio, Cleitinho parece ter entendido o óbvio: a cassação de Glauber Braga não é um julgamento ético, mas uma tentativa de silenciamento político.

No artigo que publicamos recentemente — “Cassar Glauber Braga é compactuar com uma farsa” — já havíamos denunciado essa movimentação como uma clara ofensiva contra o direito à dissidência. Glauber está sendo alvo não por ter cometido qualquer crime ou atentado real ao decoro, mas por dizer, de forma firme e transparente, aquilo que tantos temem ouvir: que os poderosos não estão acima da crítica. Que o conluio entre setores políticos, empresariais e do judiciário não passará incólume. E que o Parlamento deve ser, antes de tudo, espaço de resistência.
A fala de Cleitinho, ao reconhecer que Glauber tem o direito de se expressar, e que o Parlamento não pode virar tribunal inquisitorial, é a prova cabal de que até nos corredores mais conservadores há quem perceba o tamanho da armadilha democrática que está sendo montada. A tentativa de cassação é um precedente perigoso, um passo a mais na escalada contra vozes que denunciam o sistema de privilégios, as alianças espúrias e os acordos de bastidor que corroem a República.
Glauber Braga tem sido um dos poucos parlamentares com coragem de enfrentar os interesses do grande capital, das bancadas reacionárias. Sua presença no Congresso incomoda, porque denuncia o desmando com o dinheiro público que, em especial, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro – tornado réu pelo STF – foi motivo de denúncias de corrupção: o famigerado, espúrio, orçamento secreto.
Se até um bolsonarista — por conveniência ou lucidez momentânea — reconhece o exagero dessa perseguição, é porque a tentativa de cassação de Glauber ultrapassou todos os limites do razoável. O que está em jogo não é a moralidade, mas o controle. Não é a ética, mas o medo do enfrentamento direto.
A pergunta que fica é: quem será o próximo a ser silenciado se essa farsa passar?