Os alimentos ultraprocessados são produtos que passam por múltiplas etapas de processamento industrial e contêm diversos aditivos químicos, como conservantes, corantes e aromatizantes, além de grandes quantidades de açúcar, sal e gorduras. Esses alimentos são formulados para serem práticos, duráveis e atrativos ao paladar, mas acabam perdendo grande parte de seu valor nutricional. Exemplos comuns incluem refrigerantes, salgadinhos de pacote, biscoitos recheados, salsichas, nuggets, macarrão instantâneo e cereais matinais açucarados.

Publicado em 08/11/2024, 18:43h

Esses alimentos representam um risco significativo à saúde, especialmente quando consumidos regularmente. Estudos mostram que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados está associado a uma série de problemas de saúde. Entre eles, destacam-se a obesidade mórbida, diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e degenerativas mentais, como o Alzheimer.

A ingestão continuada dos alimentos ultraprocessados tem impacto negativo no microbioma intestinal, em geral, conduzindo a casos de desbiose intestinal, que se caracteriza por um desequilíbrio entre as populações de bactérias e demais microorganismos – benéficas e maléficas à boa saúde do corpo – que habitam o intestino delgado e o intestino grosso.

Dietas ricas em ultraprocessados prejudicam esse equilíbrio, podendo contribuir para o surgimento de doenças inflamatórias crônicas e até influenciar na saúde mental, com o aumento de casos de depressão e ansiedade, bem como do surgimento de doenças auto imunes.

Outro ponto preocupante é a manipulação de sabor e textura nos ultraprocessados, que pode criar um efeito de “recompensa” no cérebro, estimulando o desejo por mais desses alimentos. Isso pode levar a um ciclo de consumo excessivo, dificultando escolhas alimentares mais saudáveis e a manutenção de uma dieta equilibrada.

Optar por alimentos frescos e minimamente processados é uma estratégia eficaz para reduzir esses riscos. Frutas, legumes, grãos integrais, carnes magras e gorduras saudáveis, como azeite de oliva, ajudam a promover uma alimentação mais balanceada e nutritiva. A conscientização sobre os perigos dos ultraprocessados é fundamental para que a população faça escolhas mais saudáveis e proteja sua saúde em longo prazo. Mas há de se registrar que o ato de se alimentar mal, consumindo alimentos ultraprocessados, de péssima ou nenhuma capacidade nutricional, depende da renda das famílias. As populações de menor renda, em geral, são as mais expostas às doenças e à obesidade simplesmente pela falta de poder aquisitivo. Uma tragédia.

Uma crítica necessária ao cenário atual em relação aos alimentos ultraprocessados no Brasil é a ausência de uma regulamentação eficaz.

Mesmo após uma década desde o lançamento do Guia Alimentar para a População Brasileira, que prega que os Brasileiros devam consumir uma alimentação baseada em alimentos frescos e minimamente processados, não há qualquer regulação sobre o assunto. E sem regulamentações específicas, a produção e a comercialização de produtos alimentícios (sic) ultraprocessados continuam crescendo.

Outro ponto crucial é que a indústria alimentícia, com grande poder de influência, tem se oposto a medidas mais restritivas. Isso torna desafiadora a implementação de políticas que limitem o consumo desses alimentos e que aumentem a conscientização da população. Mesmo com evidências científicas robustas sobre os malefícios dos ultraprocessados, como o aumento do risco de doenças crônicas, poucos avanços foram feitos em termos de políticas públicas que controlem a publicidade desses produtos, especialmente voltada para crianças e adolescentes, grupo altamente vulnerável a essas práticas de marketing.

A ausência de regulamentação também se reflete na rotulagem inadequada. Muitos consumidores não têm plena consciência do que estão comprando, pois as embalagens nem sempre deixam claro o conteúdo nutricional e os potenciais riscos de saúde associados aos ultraprocessados. Isso dificulta a tomada de decisão e o cidadão acaba optando por produtos ultraprocessados devido à praticidade e ao baixo custo, mesmo que eles sejam menos saudáveis.

Há urgência que políticas públicas rigorosas sejam adotadas para limitar a disponibilidade e o apelo desses produtos. Medidas como a restrição de publicidade, a taxação dos ultraprocessados e rotulagem clara e informativa são essenciais para proteger a saúde pública e para apoiar escolhas alimentares mais saudáveis, alinhadas ao que o Guia Alimentar já preconiza há uma década.

Uma análise preocupante sobre o impacto econômico dos alimentos ultraprocessados, bem como de outros hábitos prejudiciais como o consumo de bebidas alcoólicas e o fumo, revela que o custo para o sistema de saúde pública é significativamente maior do que a arrecadação de impostos gerada por esses produtos. Estudos indicam que, para cada R$1,00 arrecadado em impostos provenientes dessas categorias, o Estado acaba desembolsando, no futuro, cerca de R$2,00 para lidar com as consequências de saúde geradas por esses consumos.

Essa disparidade representa uma carga financeira crescente para o Sistema Único de Saúde (SUS), que precisa atender a uma alta demanda de pacientes com doenças crônicas evitáveis, como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e câncer. Tais condições frequentemente requerem tratamentos de longa duração, hospitalizações e medicamentos contínuos, o que gera custos expressivos e sobrecarga para o sistema público de saúde.

É urgente implementar medidas punitivas, como maior taxação de produtos ultraprocessados, alcoólicos e do tabaco, redirecionando esses fundos para campanhas de educação alimentar e programas de promoção de saúde.

O governo precisa considerar regulamentações que incentivem o consumo de alimentos mais saudáveis, o que não só aliviaria a pressão sobre o SUS, mas também melhoraria a qualidade de vida da população. Investir em prevenção, a longo prazo, é um caminho mais sustentável e economicamente vantajoso do que simplesmente absorver os custos das doenças evitáveis.

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