Pepe Escobar: Essa Guerra é Muito Pior do que Se Pensa

Pepe Escobar: A guerra – Rússia x Ocidente coletivo – é muito pior do que se pensa

Por Política em Debate I Brasília

Em 12/06/2025, 12h13 I Leitura 2 min

Por Política em Debate

Pepe Escobar é um dos mais respeitados analistas geopolíticos do mundo multipolar. Correspondente de guerra, escritor e colunista internacional, Escobar cobre conflitos globais há mais de três décadas, com passagens por veículos como Asia Times, Strategic Culture e The Cradle. Conhecido por sua abordagem crítica ao imperialismo norte-americano e seu profundo conhecimento sobre as dinâmicas da Eurásia, Escobar tornou-se uma das vozes mais relevantes para entender o conflito entre a Rússia e a Ucrânia para além da propaganda ocidental.

Em uma recente entrevista, Escobar revela que a tão demonizada “Operação Militar Especial” lançada por Vladimir Putin não foi, como afirma o discurso dominante, um ato de agressão unilateral, mas sim uma reação estratégica, baseada em informações de inteligência da SVR (serviço secreto russo), que indicavam um iminente ataque em larga escala das forças ucranianas ao Donbass, com apoio da OTAN.

Segundo Escobar, o exército ucraniano já estava posicionado para um ataque-relâmpago (blitzkrieg), com datas marcadas para fevereiro de 2022. A Rússia, ao tomar conhecimento disso, teria dado a Putin um prazo de 24 a 48 horas para agir ou assistir ao massacre de civis russófonos nas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.

O contexto, como expõe Escobar, é muito mais complexo. Antes da operação, Putin enviou cartas formais aos EUA e à OTAN em dezembro de 2021 propondo um tratado de segurança coletiva para toda a região euroasiática. A resposta foi o silêncio e o desprezo. Em reuniões de bastidores, Antony Blinken, então secretário de Estado dos EUA, teria proposto estacionar mísseis na Ucrânia como parte de um novo “arranjo de segurança”. Para Moscou, isso foi o equivalente a uma provocação direta, um insulto à indivisibilidade da segurança europeia — um princípio reiterado por Lavrov, ministro russo das Relações Exteriores.

E foi neste tabuleiro que Putin teria tomado a decisão de iniciar a operação militar em 24 de fevereiro de 2022. Como revela Escobar, “se ele não fizesse nada, teríamos o Plano A: um ataque apoiado pela OTAN, com massacre de civis no Donbass”, aliás como já vinha ocorrendo desde 2014. Para Moscou, a única resposta possível foi se antecipar e neutralizar a ameaça ou seja, um ataque preventivo.

Outro ponto de destaque é o que ocorreu após o início da operação militar especial: uma proposta de cessar-fogo negociada na Turquia, em Istambul, com exigências razoáveis por parte da Rússia — neutralidade da Ucrânia, autonomia para o Donbass e respeito à língua russa, mas que acabou rejeitada pelos ucranianos após firmado um pré-acordo com os russos, por pressão de Boris Johson e Joe Biden, que forçaram Zelensky a prosseguir com a guerra. Mas, como destaca Escobar, esses dias se foram. As condições para a paz foram desprezadas, enterradas sob a obsessão ocidental de promover uma “derrota estratégica da Rússia” e até sonhar com sua fragmentação e assim ter acesso às imensas riquezas minerais e de energia que a Federação Russa possui.

Escobar vai além: insinua que o ataque com drones contra bases estratégicas russas — que compõem a tríade nuclear — foi orquestrado por uma facção desonesta da CIA, em conluio com o MI6 britânico e, possivelmente, com anuência do Mossad israelense. A operação teria sido conduzida à revelia de Trump, ou com seu conhecimento parcial, num jogo de manipulações e negação plausível.

O que o Ocidente ainda não compreendeu, segundo Escobar, é que a Rússia não pensa em ciclos eleitorais, mas em ciclos históricos. A paciência russa é milenar, e sua decisão, agora, parece irreversível: desmilitarização da Ucrânia, destruição do aparato neonazista no poder em Kiev e fim da influência da OTAN às portas de Moscou. “O regime atual em Kiev é história”, sentencia o analista.

É uma leitura inquietante — o que temos não é uma guerra de conquista, mas o reflexo de décadas de provocações, manipulações e negligência diplomática por parte do Ocidente. Uma guerra que poderia ter sido evitada. Uma paz que escapou por entre os dedos vítima da prepotência, da ignorância, do pouco valor dado à vida e da arrogância.

A tragédia não está apenas nos combates, mas na cegueira deliberada dos que se recusam a ouvir o outro lado. E, como diz Escobar, “enquanto o Ocidente pensa em eleições, a Rússia pensa em impérios”.

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