O Ano é 2025: Comando C4 x Esquadrões da Morte (ditadura militar)

O modus operandi é praticamente o mesmo. A “empresa de segurança” – grupo de extermínio – formada por militares da ativa, da reserva e civis ( Comando C4: Comando de caça a comunistas, corruptos e criminosos ) agia nos moldes dos esquadrões da morte da ditadura militar.

Por Política em Debate I Brasília

Em 30/05/2025, 11h40 I Leitura 2 min

O Brasil de 2025 assiste, estarrecido, à revelação de um grupo de extermínio que parece ter saído diretamente dos porões mais sombrios da história nacional. O chamado Comando C4 — Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos —, formado por militares da ativa, da reserva e civis, foi desmantelado pela Polícia Federal sob suspeita de atuar como milícia armada, oferecendo serviços de espionagem, monitoramento e assassinato sob encomenda, com tabela de preços para cada tipo de alvo: de civis comuns a ministros do STF, passando por deputados e senadores.

“Comando C4” estipulava preços de R$ 150 mil a R$ 250 mil para monitorar autoridades

A estrutura do C4 é digna de organizações mafiosas: arsenal de armas pesadas, fuzis de precisão, pistolas com silenciador, explosivos, drones, aluguel de imóveis para vigilância, disfarces e até o uso de “iscas” humanas para atrair vítimas. Tudo documentado, tabelado, profissionalizado. Os valores cobrados para assassinatos variavam de R$ 50 mil (para civis) a R$ 250 mil (para ministros do Judiciário).

O grupo não agia apenas por dinheiro. Suas motivações eram políticas e ideológicas, mirando autoridades, políticos e pessoas consideradas inimigas do projeto de poder da extrema direita. O assassinato do advogado Roberto Zampieri, em 2023, foi o fio da meada que levou a PF a desbaratar o esquema, revelando conexões com esquemas de venda de sentenças judiciais e um modus operandi que remete aos esquadrões da morte da ditadura militar.

PF encontra lista com nomes de ministros do STF em ação contra espionagem e grupo de extermínio

A semelhança com os grupos paramilitares que atuaram durante o regime militar brasileiro é chocante. Naqueles anos, o Estado recorreu à violência institucionalizada, à tortura e ao assassinato de opositores como método de controle social e político. O prédio da Rua da Relação, 40, no Rio de Janeiro ( hoje se luta para transformar o prédio em memorial de exposições e debates sobre a violência de Estado, mas há fortes empecilhos protelatórios, em face do governo de extrema direita, que tem a governança do estado do rio de janeiro ) foi palco dessas atrocidades, como resgatam os testemunhos e documentos históricos expostos recentemente em Niterói e analisados em nosso blog.

Rua da Relação, 40: testemunho material da violência de Estado”
Rua da Relação, 40: testemunho material da violência de Estado” (2)

A volta desse tipo de organização, agora travestida de “combate à corrupção” e “defesa da pátria”, escancara o fracasso do pacto democrático pós-ditadura em impedir a infiltração de práticas autoritárias e criminosas na política contemporânea. O C4 não é um caso isolado, mas expressão de uma cultura política que nunca rompeu de fato com a lógica da violência como instrumento de disputa e tentativa de tomada do poder. A naturalização do discurso de ódio, o incentivo à eliminação física do adversário e a conivência de setores das forças de segurança com práticas ilegais são sintomas de uma democracia em risco.

O mais grave é perceber que, para além do crime, há um projeto político por trás dessas ações. O grupo atuava para intimidar, eliminar e silenciar adversários, alimentando uma atmosfera de terror e instabilidade institucional. Não à toa, a lista de alvos incluía ministros do STF, parlamentares e figuras públicas que se opõem ao avanço do autoritarismo. O preço da barbárie estava tabelado.

Diante desse cenário, é fundamental resgatar a memória das vítimas da violência de Estado e reafirmar o compromisso com os direitos humanos e a democracia. O passado recente mostra que, quando a sociedade tolera ou relativiza o uso da força para fins políticos, abre-se caminho para a repetição dos piores capítulos da nossa história. O caso do Comando C4 é um alerta: a barbárie nunca está tão distante quanto gostaríamos de acreditar.

Lembrando novamente…Para aprofundar a reflexão sobre a violência política institucionalizada e sua permanência na sociedade brasileira, recomendamos a leitura dos relatos e análises publicados em nosso blog:
Rua da Relação, 40 – testemunho material da violência de Estado – Parte 1
Rua da Relação, 40 – testemunho material da violência de Estado – Parte 2

A democracia brasileira só será plena quando romper, de uma vez por todas, com a herança dos esquadrões da morte — sejam eles do passado ou do presente.

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