
Por Política em Debate I Brasília
Em 30/05/2025, 17h50 I Leitura 2 min
O roteiro do bolsonarismo parece cada vez mais inspirado na cartilha do gangsterismo político: pressão, intimidação, tentativas de obstrução e articulação internacional para escapar das consequências de seus próprios atos. Jair Bolsonaro, acusado de ser o chefe da quadrilha que tentou um golpe de Estado contra o governo Lula, segue solto não por falta de provas, mas porque a PGR e o STF, até aqui, não encontraram elementos suficientes para decretar sua prisão preventiva por obstrução de justiça ou outros crimes correlatos — pelo menos não no padrão tradicional de flagrante, ameaça direta ou destruição de provas.
O episódio mais recente é didático. Bolsonaro, réu no processo que apura a trama golpista de 8 de janeiro de 2023, ligou para seu ex-vice, o senador Hamilton Mourão, na véspera do depoimento deste ao STF. Mourão, que não é investigado, mas figura como testemunha de defesa de Bolsonaro e de outros generais, confirmou o telefonema: Bolsonaro pediu que ele enfatizasse, em seu depoimento, pontos que lhe fossem favoráveis, especialmente a narrativa de que desconhecia qualquer plano golpista. A manobra, que para qualquer observador minimamente honesto configura tentativa de interferência e embaraço à justiça, foi prontamente denunciada pelo PT à Procuradoria-Geral da República, que agora avalia se o ato pode ser enquadrado como obstrução de justiça e motivo para medidas cautelares contra o ex-presidente.
Juristas e ministros do STF já apontam: se ficar comprovado que Bolsonaro tentou orientar, manipular ou coagir a testemunha, pode ser preso por tentativa de obstrução — um crime previsto para quem “impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”. O próprio Mourão, aliás, pode se complicar se restar evidente que mentiu ou omitiu fatos ao STF, configurando falso testemunho.

O roteiro da família Bolsonaro vai além do território nacional. Nos bastidores, Eduardo Bolsonaro é acusado de atuar como emissário do pai nos Estados Unidos, pressionando o governo Trump e parlamentares republicanos para impor sanções pessoais contra ministros do STF e do TSE, especialmente Alexandre de Moraes — o mesmo que tornou Bolsonaro inelegível até 2030 e pode condená-lo à prisão. O objetivo, segundo as acusações, parece claro: intimidar e constranger o Judiciário brasileiro, transformando o Brasil em quintal da extrema direita americana, como se a soberania nacional pudesse ser negociada em troca de impunidade familiar.
Esse comportamento, se comprovado pelo inquérito aberto a pedido da PGR, não é apenas criminoso; é mais um sintoma de que a extrema direita perdeu qualquer compromisso com a institucionalidade e aposta todas as fichas na chantagem, na sabotagem e na ameaça.
O bolsonarismo, ao mobilizar o aparato internacional e tentar manipular testemunhas, mostra que não reconhece limites — nem morais, nem legais. E a direita dita “democrática”, até aqui, assiste a tudo em silêncio, refém do extremismo e incapaz de romper com o legado tóxico que ajudou a criar.
Até aqui Bolsonaro segue livre, apostando na impunidade e na leniência institucional, enquanto seu grupo é acusado de multiplicar tentativas de tumultuar o processo democrático. O Brasil, mais uma vez, é chamado a decidir se aceita ser governado pelo medo e pela intimidação ou se, finalmente, enfrentará de frente a delinquência política que ameaça corroer as bases do Estado de Direito.
Para aprofundar a análise sobre o modus operandi do bolsonarismo e o papel da violência política na história recente do Brasil, confira também nossos artigos sobre a Rua da Relação, 40 — testemunho material da violência de Estado:
Parte 1
Parte 2