Publicado em 29/10/2024, 16:33h
O glifosato, um dos herbicidas mais utilizados no mundo, se tornou símbolo de polêmica e preocupação em relação à saúde pública e ao meio ambiente. Desenvolvido pela Monsanto na década de 1970, o glifosato é amplamente utilizado para o controle de ervas daninhas na agricultura e em plantações geneticamente modificadas, especialmente na soja, milho e algodão, comuns no Brasil. A popularidade e a defesa do produto foram sustentadas por décadas através de campanhas e de influência no setor agrícola e científico, apesar das evidências científicas que associam a substância ao câncer e a outros problemas de saúde.
Foi somente em 1995, quando as sementes transgênicas de soja, milho e algodão Roundup Ready, também da Monsanto, chegaram ao Brasil, que o agrotóxico se tornou largamente utilizado no país. Em 2000, quando a patente da Monsanto sobre o glifosato perdeu a validade, o produto foi incorporado por diversas empresas nacionais em outras composições. Atualmente, mais de 100 agrotóxicos têm o glifosato em sua composição.
Como o Glifosato se Tornou Essencial na Agricultura
O glifosato foi promovido pela Monsanto como um herbicida altamente eficaz e seguro, principalmente quando usado em conjunto com culturas transgênicas, que foram desenvolvidas para serem resistentes à substância. Esse modelo de produção – dependente do uso contínuo do herbicida – gerou uma enorme lucratividade para a Monsanto e fidelizou agricultores ao redor do mundo, incluindo no Brasil, que passou a depender economicamente dessa forma de cultivo intensivo.
Entretanto, à medida que o uso do glifosato cresceu, surgiram estudos alertando para seus riscos à saúde. Em 2015, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o glifosato como “provavelmente cancerígeno para humanos.” Este reconhecimento colocou a Monsanto sob uma série de questionamentos e ações judiciais ao redor do mundo.
Diversos países têm restrições ou proibições ao uso do glifosato devido a preocupações ambientais e de saúde pública, enquanto outros mantêm o uso sob regulamentação.
Na Europa, Luxemburgo proibiu a comercialização do glifosato, mas reverteu a decisão em 2023 por ordem judicial. França, Países Baixos e Bélgica proíbem seu uso em espaços públicos ou por particulares, enquanto a Alemanha planeja uma proibição completa para o final de 2023. Portugal também proíbe o uso em espaços públicos, e a República Tcheca limita sua aplicação. A União Europeia renovou a autorização temporária do glifosato em 2023, com debates intensos entre países-membros sobre uma proibição definitiva.
Na América Latina, o México estabeleceu uma proibição gradual com previsão de eliminação completa até 2024. Na Colômbia, o glifosato foi restrito para uso na erradicação de cultivos ilícitos devido a preocupações de saúde, mas sua aplicação foi retomada com limitações. El Salvador tentou proibir o herbicida em 2013, mas a proibição foi suspensa.
Na Ásia, o Sri Lanka proibiu o glifosato em 2015 devido a suspeitas de vínculo com uma doença renal crônica, mas a proibição foi parcialmente e, posteriormente, completamente revogada. Já o Vietnã implementou uma proibição total em 2021.
Essas restrições refletem as preocupações globais em torno do impacto do glifosato, embora o consenso sobre sua proibição total ainda não tenha sido alcançado mundialmente.
A Influência da Monsanto e as Lacunas Regulatórias no Brasil
No Brasil, porém, a situação é distinta. O país é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, e o glifosato, em especial, é um dos herbicidas mais aplicados. A legislação brasileira sobre o uso de agrotóxicos é criticada por ser permissiva e, em muitos casos, as decisões regulatórias são influenciadas por interesses do setor agropecuário, que exerce grande poder econômico e político.
A Monsanto, agora parte da Bayer, investiu fortemente para influenciar a regulamentação do glifosato e sustentar sua segurança, mesmo em meio a evidências contraditórias. Documentos revelados em processos judiciais internacionais mostraram que a empresa financiou pesquisas, influenciou publicações científicas e manteve um forte lobby junto a reguladores, prática conhecida como “ghostwriting”. Além disso, a capacidade de monitoramento e restrição de agrotóxicos no Brasil ainda é limitada, o que facilita a permanência de substâncias polêmicas no mercado.
Os Riscos à Saúde e ao Meio Ambiente
O uso indiscriminado de glifosato não apenas coloca a saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores em risco – que estão expostos a resíduos de agrotóxicos nos alimentos – como também causa impacto ambiental significativo. O glifosato contamina o solo, a água e afeta a biodiversidade, além de gerar uma crescente resistência nas plantas daninhas, demandando maiores quantidades de aplicação do produto.
Por que o Brasil Ainda não Proíbe o Glifosato?
A permanência do glifosato no mercado brasileiro é resultado de um conjunto de fatores, incluindo a pressão do setor agrícola, a influência de multinacionais, a fragilidade das regulações e a dependência econômica do agronegócio no país. Em resumo, a Monsanto e outras empresas de agrotóxicos mantêm sua posição forte através de um sistema de incentivos e interesses econômicos que não priorizam a saúde pública.
Para que mudanças substanciais ocorram, o Brasil precisará enfrentar uma complexa rede de interesses e repensar seu modelo agrícola, adotando práticas mais sustentáveis e menos dependentes de substâncias químicas de risco. A conscientização pública e a pressão por regulamentações mais rígidas são caminhos fundamentais para um futuro mais seguro e sustentável, em que a saúde humana e o meio ambiente sejam prioridades sobre o lucro.
O Futuro de um Mau Negócio
A Monsanto já deve ter percebido que envenenar o planeta não é bom negócio. Que vão cada vez mais ganhar menos dinheiro com “veneno” e experimentar mais repulsa ao seu “bom” nome. À sua marca. Justo por isso ela hoje tenta monopolizar a agricultura de quase tudo, cobrando royalties em cima de sementes transgênicas e melhoradas. Agricultores mundo à fora, no Brasil, nos EUA, etc, sofrem pelo fato de que uma lavoura de soja transgênica vai contaminar uma outra lavoura de soja não transgênica do vizinho ao lado. E aí eles podem ser acusados judicialmente de burlarem direitos de propriedade atrelados às sementes geneticamente modificadas.
E no Brasil isso é muito pior com a atuação da bancada do agro e de toda a mídia que esconde da sociedade o que de descalabro ocorre. E o governo fica de mãos atadas. Sem forças e meios para resistir a esses monumentais lobbies.
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