Um chocante documentário da BBC mostrando como ocorrem chantagens sexuais e abusos contra as mulheres nas plantações de chá, de multinacionais, no Quênia.
17 de março de 2023, 15: 30h

“Não posso perder o meu emprego porque tenho filhos”, disse uma mulher trabalhadora numa das fazendas de chá do Quénia, enquanto outra contou que um gerente de divisão acabou com o seu trabalho até que ela concordou em ter sexo com ele. Investigação denuncia abusos sexuais a troco de trabalho e em propriedades que fornecem conhecidas marcas de chá.
Dezenas de mulheres que trabalham em plantações de chá no Quênia, responsáveis pela produção de algumas das marcas mais populares do mundo, denunciaram casos de abuso sexual por parte de seus supervisores em troca do emprego, conforme reportagem da BBC.
Há uma década, a exploração sexual em fazendas de chá que forneciam algumas das marcas mais populares do mundo, como PG Tips, Lipton e Sainsbury’s Red Label, já havia sido denunciada. No entanto, uma investigação conjunta entre a BBC Africa Eye e Panorama revelou que dezenas de mulheres foram forçadas a manter relações sexuais para garantir o emprego ou, ainda, um posto menos pesado.
Apesar de a Unilever já ter enfrentado essas acusações e anunciado uma abordagem de “tolerância zero” em relação ao assédio sexual, a investigação divulgada pela BBC demonstra uma realidade diferente. Tom Odula, da BBC, entrevistou mulheres que trabalhavam em plantações de chá gerenciadas pelas duas empresas, nas quais várias delas afirmaram que, como o trabalho é escasso, elas não têm outra opção senão ceder às exigências sexuais de seus patrões ou não ter renda.
Uma das entrevistadas relatou que não podia perder o emprego por ter filhos, enquanto outra contou que um gerente acabou com seu trabalho até que ela concordasse em manter relações sexuais com ele. Outra denunciou ter sido infectada pelo HIV por seu supervisor após ser pressionada a manter relações sexuais com ele.
Durante a investigação, a BBC recrutou uma repórter infiltrada (cujo nome fictício é Katy) para trabalhar nas plantações de chá. Em um dos casos, Katy foi chamada para uma entrevista de emprego com um recrutador da James Finlay & Co, chamado John Chebochok, que trabalha nas plantações há mais de 30 anos. Várias mulheres já haviam marcado Chebochok como um “predador”, segundo relato de Tom Odula.
Durante a entrevista, Chebochok pressionou Katy a tocá-lo e despir-se em troca de dinheiro e do emprego. Ele propôs: “Vamos nos deitar, acabar e ir embora. Depois, você vem e trabalha.” Katy deixou claro que não consentiu e acabou desistindo da entrevista. Um membro da equipe de produção, que estava por perto para garantir a segurança de Katy, fez uma ligação telefônica para dar uma desculpa para ela sair.

Ao fim da investigação, em que presenciou outras situações, Katy afirmou: “Fiquei tão assustada e chocada. Deve ser realmente difícil para as mulheres que trabalham sob Chebochok”. A James Finlay & Co disse que Chebochok foi imediatamente suspenso após o contato da BBC, tendo sido denunciado à polícia e que estava investigando se sua operação no Quênia tinha “um problema endêmico de violência sexual”. Em decorrência da investigação, três supervisores das plantações foram suspensos.
Veja o chocante vídeo documentário da BBC.