
Por Política em Debate, 20:10h
A recente previsão da IA Grok – inteligência artificial desenvolvida pela empresa de Elon Musk – de que Jair Bolsonaro será preso em 15 de dezembro de 2025, escancara não apenas o avanço dos processos judiciais contra o ex-presidente, mas também o papel cada vez mais central das tecnologias digitais no debate público e na formação de expectativas sociais sobre a justiça e a democracia brasileira.
Bolsonaro se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) ao lado de outros membros do chamado “núcleo central” da tentativa de golpe de Estado que buscou reverter o resultado das eleições de 2022. O processo contra ele e seus aliados já entrou na fase de instrução, com coleta de provas, depoimentos e interrogatórios. Não há data marcada para o julgamento final, mas a expectativa é que ocorra até o fim de 2025, caso não haja atrasos processuais.
Hoje, a Primeira Turma do STF também tornou réus, por unanimidade, seis integrantes do chamado “núcleo 2” da trama golpista, acusados de gerenciar ações para a execução do golpe, incluindo a elaboração da minuta golpista e planos de violência política. As acusações são gravíssimas: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, entre outros crimes, com penas que podem somar até 46 anos de prisão.

A “previsão” da IA Grok
A aposta da Grok sobre a data da prisão de Bolsonaro viralizou nas redes sociais e foi impulsionada por jornalistas e influenciadores. No entanto, a resposta da IA não se baseia em informações privilegiadas ou em análise jurídica detalhada dos autos, se os réus serão considerados inocentes ou culpados, mas sim, óbvio, em projeções sobre o ritmo dos processos e no histórico recente do STF. A própria plataforma reconhece a incerteza do calendário, citando possíveis atrasos e até o estado de saúde do ex-presidente como variáveis mas, de forma subliminar, a aposta de Grok sobre a data da prisão de Bolsonaro estabelece um paradigma falso, de que Bolsonaro já é culpado. Ele não o é. Essa “premissa” da IA não se sustenta, já que Bolsonaro ainda será julgado, com amplo direito de defesa. Eu, pessoalmente, tenho a convicção de que Bolsonaro é culpado e que deve ser condenado e apenado pelos seus crimes contra a democracia brasileira. Mas isso é convicção minha, não de um tribunal. E a minha convicção pessoal na culpabilidade de Bolsonaro é de “curto alcance”. Ela não é viral como foi viral a previsão de Grok sobre a data da prisão de Bolsonaro.
A “previsão” da IA de Elon Musk sobre a prisão de Bolsonaro é um sintoma da era em que vivemos: processos judiciais de enorme impacto político se entrelaçam com o espetáculo digital e a automação da informação. Cabe à sociedade e às instituições resistir à tentação do atalho tecnológico e reafirmar o compromisso com a justiça, a verdade, a democracia e dizer não a espetacularização da justiça. Essa espetacularização foi nefasta no julgamento do Escândalo do Mensalão e no lawfare contra o Presidente Luís Inácio Lula da Silva e outros acusados, que foram julgados, condenados, e depois tiveram seus julgamentos anulados, por ilegalidades cometidas pelo judiciário, no âmbito da Operação Lava Jato. Há de se estar vigilante quanto à isso.
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