Mal o Papa Francisco morreu e já começam as disputas sobre quem será nomeado como o novo papa. E o por quê disso? Porque estamos falando de um contingente de católicos de mais de 1 bilhão de pessoas, e a linha de ação e posições políticas do novo papa à frente da igreja nos próximos anos é fator crucial no jogo da geopolítica. Um papa mais conservador ou mais progressista, como foi Francisco, tem enorme importância nesse mundo conturbado, de lideranças retrógradas e agressivas, em especial da extrema direita, como Trump, procurando a dominância em todos os campos, em especial aqueles mais sensíveis que envolvem a família, as crenças e valores do cidadão.

Por Política em Debate, 21/04/2025, 19:35h

A morte do Papa Francisco, ocorrida na manhã desta segunda-feira (21), abre uma nova etapa na história da Igreja Católica. Com a partida do primeiro papa latino-americano e um dos pontífices mais engajados social e politicamente das últimas décadas, tem início o processo de sucessão — e, com ele, uma intensa disputa interna entre setores progressistas e ultraconservadores.

Segundo analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, há uma tentativa evidente de forças da extrema direita — inclusive internacionais, como os apoiadores de Donald Trump — de influenciar a escolha do novo papa. A nomeação de Brian Burch, conhecido opositor das posições de Francisco, como embaixador dos EUA junto à Santa Sé por Trump, é vista como uma tentativa simbólica e política de marcar território.

Mal o Papa Francisco morreu e já começam as disputas sobre quem será nomeado como o novo papa. E o por quê disso? Porque estamos falando de um contingente de católicos de mais de 1 bilhão de pessoas, e a linha de ação e posições políticas do novo papa à frente da igreja nos próximos anos é fator crucial no jogo da geopolítica.

No entanto, Francisco foi cuidadoso e estratégico: blindou a Cúria Romana ao longo de seus 12 anos de pontificado, nomeando ou fidelizando aproximadamente 80% dos cardeais eleitores, o que representa uma maioria significativa no colégio que agora escolherá seu sucessor. Como destaca a analista Melissa Rocha, “de cada dez cardeais com direito a voto, oito foram diretamente escolhidos por Francisco”. Isso não elimina o risco de traições, mas aumenta a probabilidade de continuidade em relação ao projeto pastoral progressista do papa argentino.

Os cotados à sucessão

Entre os nomes mais mencionados como papáveis no próximo conclave estão:

Há ainda o Cardeal Gerhard Müller (Alemanha) como um dos papáveis. Ele é ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, crítico de Francisco.

Entre esses nomes, Tagle desponta com força entre os setores reformistas, podendo tornar-se o primeiro papa asiático da história, representando as Filipinas, maior nação católica da Ásia. A escolha de um papa do Sul Global manteria o espírito descentralizador de Francisco.

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A influência de Francisco e os limites do trumpismo

A intenção de Trump em influenciar o Vaticano é vista por especialistas como um blefe megalomaníaco, segundo o antropólogo Rodrigo Toniol (UFRJ). Ele observa que, embora Trump deseje aproximar-se dos setores católicos conservadores, o conclave não é uma eleição democrática tradicional, e sim um processo interno de uma instituição de 2 mil anos.

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O próprio legado de Francisco aponta para uma resistência natural à captura ideológica por interesses políticos externos. Durante seu pontificado, Francisco enfrentou o reacionarismo com firmeza: aboliu privilégios de castas clericais, enfrentou escândalos de abusos com mais transparência, levou a Igreja a se engajar nas questões ambientais e sociais, e promoveu uma Igreja voltada aos pobres e marginalizados.

Seu projeto se contrapunha diretamente ao avanço da extrema direita no Ocidente. Como observa a analista Rocha, Francisco fez da alteridade – o reconhecimento do outro – seu principal legado num mundo marcado pelo ódio ao diferente e pela exclusão do pobre.

O que está em jogo?

O conclave que se aproxima será muito mais do que uma escolha entre cardeais: será a disputa entre dois projetos de Igreja. De um lado, a continuidade de uma Igreja viva, em diálogo com o mundo, atenta aos excluídos e à justiça social. Do outro, a retomada de uma visão clericalista, fechada em si mesma, alinhada aos interesses do conservadorismo político e econômico.

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