Deu na mídia

Por Política em Debate I Brasília
Em 28/04/2025, 19h30 I Leitura: 3 min
Matéria da Carta Capital de hoje publica que os russos condicionam as negociações de paz em relação ao conflito Russia x Ucrânia (ocidente coletivo) ao reconhecimento internacional de que todas as cinco regiões anexadas pela Rússia desde 2014 são agora partes integrantes da Rússia.

Península da Crimeia e Sevastopol
A incorporação da Crimeia à Federação Russa em 2014 foi precedida por um plebiscito realizado tanto na península da Crimeia quanto na cidade de Sevastopol, em meio a uma forte crise política na Ucrânia. Após a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich (pró – Rússia) e a ascensão de um governo interino em Kiev, forças pró-Rússia assumiram o controle da região, e o parlamento local aprovou rapidamente a realização de um referendo sobre o futuro político da Crimeia.
O plebiscito, realizado em 16 de março de 2014, apresentou duas perguntas principais à população: se desejavam a reunificação da Crimeia com a Rússia como parte da Federação Russa, ou a restauração da Constituição de 1992, que previa maior autonomia, mas ainda sob soberania ucraniana. Segundo os dados oficiais, mais de 80% dos eleitores compareceram às urnas, e cerca de 96,8% votaram a favor da união com a Rússia, tanto na Crimeia quanto em Sevastopol.
O referendo, no entanto, foi realizado sob forte presença militar russa, sem a participação de observadores internacionais independentes, e foi amplamente contestado pela Ucrânia, pela minoria tártara local, e pela maior parte da comunidade internacional, que consideraram o processo ilegal e realizado sob coerção.

Kherson, Luhansk, Donetsk e Zaporizhzhia
Desde o início da invasão russa em larga escala à Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia realizou referendos e anunciou a anexação de quatro regiões ucranianas: Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia. Os plebiscitos ocorreram entre 23 e 27 de setembro de 2022, em meio à ocupação militar russa e sob forte contestação internacional, sendo amplamente classificados como ilegítimos e realizados sob coação.
A votação foi organizada pelas autoridades pró-Rússia e, segundo dados divulgados pelo governo russo, os resultados mostraram apoio massivo à anexação. Em Zaporizhzhia, por exemplo, o resultado oficial foi de 93,11% a favor; em Kherson, 87,05%; enquanto nas regiões de Donetsk e Luhansk, os percentuais divulgados superaram 90% de aprovação à integração com a Federação Russa. O processo foi marcado por denúncias de obrigatoriedade do voto, presença de soldados armados durante a votação e ausência de observadores independentes, o que levantou sérias dúvidas sobre a legitimidade e a liberdade do pleito.
Logo após a divulgação dos resultados, o presidente Vladimir Putin assinou, em cerimônia no Kremlin, a anexação formal dessas regiões, que juntas representam cerca de 15% do território ucraniano. O parlamento russo ratificou rapidamente o processo, e o governo anunciou a concessão de cidadania russa aos habitantes dessas áreas, além da adoção do rublo como moeda oficial.

A Ucrânia e a maior parte da comunidade internacional rejeitaram os referendos e a anexação, considerando-os ilegais e uma violação da soberania ucraniana. Apesar da proclamação russa, parte significativa desses territórios permanece sob disputa militar, com avanços e recuos de ambos os lados ( área contestada ) desde então.
A perda territorial
A área total da Ucrânia, antes de 2014 (com a Crimeia ainda integrada), era de aproximadamente 603.550 km². Em termos práticos, a Ucrânia era do tamanho dos estados de Minas Gerais + Espírito Santo juntos. Com a anexação pela Rússia da Crimeia, Sevastopol, Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, a Ucrânia perdeu cerca de 150.000 km² do seu território, isto é, 24,86%.
Se considerarmos não apenas o que já foi formalmente anexado, mas também as regiões contestadas — ou seja, áreas da Ucrânia ainda em disputa ativa (zonas de combate) e que, na prática, podem ser absorvidas pela Rússia — a estimativa de território controlado ou prestes a ser incorporado aumenta. A projeção é que a Rússia poderá controlar aproximadamente de 180.000 km² a 185.000 km², 30,64% do território original da Ucrânia.
Há ainda a possibilidade de que se o conflito se arrastar mais, e Kiev não ceder, que até a Cidade de Odessa – o porto no mar negro mais importante para a Ucrânia – caia nas mãos dos Russos, lembrando que Putin e os Russos consideram Odessa cidade histórica da Rússia. Nessa hipótese, a Ucrânia pós conflito dificilmente seria um Estado viável, já que alguns dos seus vizinhos, hoje aliados, almejam “um naco” do território ucraniano, como é o caso da Polônia e da Romênia. Eles poderiam aproveitar uma Ucrânia destruída economicamente pela guerra para reivindicar isso.
O impacto econômico das anexações
1. Riquezas minerais perdidas
- Terras raras e minerais estratégicos:
As regiões de Donetsk, Luhansk e Zaporizhzhia possuem reservas expressivas de terras raras, além de minério de ferro, manganês e lítio — elementos altamente estratégicos para a indústria tecnológica e militar. - Carvão:
O Donbass (Donetsk e Luhansk) é conhecido como o coração carbonífero da Ucrânia. Cerca de 90% das reservas de carvão da Ucrânia estão concentradas nessa área, que agora está majoritariamente sob controle russo ou contestada.
2. Agricultura — Commodities de exportação perdidas
- Trigo e outros grãos:
As regiões de Zaporizhzhia e Kherson são extremamente férteis e importantes produtoras de trigo, cevada e milho. - Frutas, legumes e oleaginosas:
Essas áreas também eram essenciais para a produção de girassol (óleo de girassol), um dos principais produtos de exportação agrícola da Ucrânia.
A perda dessas terras reduz drasticamente a capacidade da Ucrânia de manter seu status de grande exportador agrícola mundial.
3. Indústria e energia
- Usina Nuclear de Zaporizhzhia:
É a maior usina nuclear da Europa.
A perda ou o controle incerto sobre Zaporizhzhia representa um golpe monumental para o sistema energético ucraniano, além de riscos de segurança gravíssimos. - Siderurgia e indústria pesada:
A cidade de Mariupol, também tomada pela Rússia, era sede de alguns dos maiores complexos siderúrgicos da Ucrânia, como a Azovstal.
Mariupol era vital para a indústria metalúrgica e para a exportação de aço.
É fácil se perceber, que com a guerra a reconstrução e a manutenção da soberania econômica tornam-se desafios quase intransponíveis para Kiev a médio prazo. Com as perdas econômicas em minerais estratégicos, energia e produção agrícola, o potencial de arrecadação e exportação da Ucrânia caiu dramaticamente.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia em 2021 foi de aproximadamente US$ 200 bilhões (dados do Banco Mundial e do FMI) e caiu drasticamente a partir de 2022 (queda de 30,4% só em 2022). Agora, considerando as regiões anexadas ou sob contestação, podemos estimar a perda do PIB em:

Somando tudo:
- A perda direta representaria algo entre 20% e 25% do PIB da Ucrânia em tempos normais (antes da guerra). Porém, com o impacto geral da guerra (infraestrutura destruída, fuga de investimentos, redução das exportações agrícolas e industriais), o dano indireto é ainda maior.