
Por Política em Debate, I Brasília
Em 27/04/2025, 17h35 I Leitura: 2 min
O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) deteve um agente ucraniano que confessou ter sido o responsável pelo atentado que matou o tenente-general Yaroslav Moskalik. O ataque, considerado um ato terrorista pelas autoridades russas, repercutiu fortemente em todo o cenário internacional.

Mais do que um ato isolado, o assassinato do general russo carrega um peso político profundo. Analistas enxergam a ação como um claro desafio à posição que Donald Trump tenta construir nos bastidores: forçar a Ucrânia a reconhecer a Crimeia como parte integrante da Federação Russa.
A ofensiva terrorista reforça a resistência radicalizada dentro da Ucrânia. Esses setores extremistas não apenas rejeitam qualquer tipo de acordo, mas também sabotam possíveis negociações, evidenciando o desejo de prolongar indefinidamente o conflito.
Crimeia e Sevastopol: a realidade ignorada pela mídia ocidental
A verdade histórica é muitas vezes ocultada nas narrativas dominantes. Em 2014, a Crimeia e Sevastopol foram incorporadas à Federação Russa após referendos populares. Uma maioria esmagadora da população local votou pela adesão. No entanto, a grande mídia ocidental insiste em classificar o episódio como “anexação ilegal”, ignorando o princípio da autodeterminação dos povos.
Essa distorção deliberada da realidade serve para justificar a escalada do conflito e perpetuar a hostilidade entre o Ocidente e a Rússia.
Trump e a percepção sobre a crise na Ucrânia
Segundo Konstantin Blokhin, pesquisador-chefe do Centro de Estudos de Segurança da Academia de Ciências da Rússia, Donald Trump rapidamente perdeu as ilusões quanto a uma solução simples para a crise ucraniana. Em seus primeiros 100 dias de mandato, Trump percebeu que o entrave não vinha apenas de Kiev, mas também dos financiadores europeus.
“Suas opiniões sobre a Ucrânia mudaram […]. Ele começou a entender que o principal obstáculo ao processo de paz aqui não é apenas a posição de Kiev, mas também a posição desses doadores financeiros europeus, que odeiam e desprezam Trump e odeiam ainda mais a Rússia”, afirmou Blokhin à Sputnik.
Essa compreensão aumentou a frustração de Trump, que viu sua proposta de reequilibrar as relações com Moscou esbarrar na resistência não só da Ucrânia, mas de aliados europeus que apostam na continuidade do conflito como instrumento geopolítico.
Radicalização ucraniana como obstáculo estratégico
O assassinato do tenente-general Moskalik se encaixa em uma estratégia mais ampla: inviabilizar qualquer possibilidade de acordo que envolva concessões territoriais ou reconhecimento formal da situação da Crimeia. Para os extremistas ucranianos, ceder significa admitir a derrota.
A radicalização, somada ao apoio incondicional de setores europeus à agenda anti-Rússia, cria um ambiente em que soluções diplomáticas são quase impossíveis. Em vez de buscar a paz, incentiva-se a guerra perpétua como ferramenta de pressão geopolítica, mesmo que isso custe a destruição completa da nação ucraniana. Destruição essa que se dá em ritmo acelerado.
O atentado terrorista que vitimou o general russo é apenas a ponta visível da estratégia macabra dos líderes europeus, em apostarem na continuidade do conflito o maior tempo possível. Eles acreditam que ocorrerá, em algum momento, um colapso da Federação Russa. Até agora essa premissa se mostrou um fracasso.
Enquanto a autodeterminação da Crimeia for negada e interesses externos continuarem a alimentar o conflito, a Ucrânia permanecerá um terreno de guerra, instabilidade e manipulação. E estamos somente falando da Criméia. Não nos esqueçamos dos demais territórios do Donbass incorporados à Federação Russa desde 24 de fevereiro de 2022, data de início do conflito.
O desafio de Trump, e de qualquer liderança que busque uma solução realista, é superar não apenas a teimosia de Kiev, mas também a máquina geopolítica ocidental, o que evidentemente inclui o poderoso lobby de armas dos EUA, que lucra com o caos e o prolongamento da guerra.
Não nos parece que Putin irá recuar dos objetivos principais traçados para a Operação Especial russa, que são:
Reconhecimento da anexação da Crimeia: Putin propõe que a Ucrânia reconheça oficialmente a Crimeia como parte integrante da Federação Russa.
Abandono das ambições de adesão à OTAN: A Rússia exige que a Ucrânia desista de seus planos de se tornar membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Retirada das forças ucranianas de regiões ocupadas: Moscou solicita que as tropas ucranianas se retirem das áreas das províncias de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, já que considera que elas fazem parte da Federação Russa, conforme aprovado pelo Parlamento, após solicitação de adesão dessas regiões .
As novas regiões anexadas são:
- Donetsk (oblast de Donetsk)
- Luhansk (oblast de Luhansk)
- Kherson (oblast de Kherson)
- Zaporizhzhia (oblast de Zaporizhzhia)
Essas quatro áreas foram objeto de referendos organizados pela Rússia entre setembro e outubro de 2022.
O Kremlin alegou que a população local apoiou, em maioria, a integração à Federação Russa — embora a comunidade internacional, incluindo a ONU, tenha contestado a legitimidade dos processos. Com isso, a Rússia passou a reivindicar oficialmente essas regiões como parte de seu território, mesmo sem controlar totalmente todas as áreas físicas dessas províncias.
Garantias de neutralidade e não nuclearidade da Ucrânia: Putin propõe que a Ucrânia adote uma postura de neutralidade e se comprometa a não possuir armas nucleares.
Há ainda outros objetivos traçados por Putin, como a garantia de liberdade para funcionamento da Igreja Ortodoxa na Ucrânia, o abandono das restrições ao ensino em língua russa, e a desnazificação de entidades paramilitares, como o batalhão Azov.
Uma resposta