Por Política em Debate, 21/04/2025, 10:00h (Brasília)

O mundo perdeu nesta manhã uma de suas figuras mais emblemáticas do século XXI. Papa Francisco, o primeiro papa latino-americano da história da Igreja Católica, faleceu aos 88 anos, às 7h30 (horário de Roma), segundo confirmou o Vaticano. Francisco deixa como legado um pontificado que rompeu com velhos dogmas e buscou, incansavelmente, aproximar a Igreja das periferias — tanto geográficas quanto humanas.

Papa Francisco: Morreu hoje às 7:30h (horário de Roma) um aliado da humanidade.

Mesmo após passar cinco semanas internado com pneumonia e após superar alguns problemas de plaquetas sanguíneas baixas, recebendo transfusões de sangue, Francisco apareceu em uma cadeira de rodas ontem, durante as celebrações da Páscoa, para abençoar dezenas de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Na semana anterior, visitou um presídio em Roma, onde disse aos detentos: “Quero estar próximo de vocês. Rezo por vocês e suas famílias.” Quando questionado por repórteres sobre sua saúde, respondeu com humildade: “Do melhor jeito que posso.”

Por 12 anos, Jorge Mario Bergoglio — nascido em Buenos Aires — conduziu mais de um bilhão de católicos com uma visão de fé inclusiva, corajosa e profundamente humana. Enfrentou setores conservadores e bateu de frente com os interesses políticos e econômicos, que tentam moldar a espiritualidade segundo conveniências de poder. Falou aos migrantes, às vítimas de abusos clericais, aos católicos LGBTQIA+ e aos pobres do mundo, enquanto denunciava as guerras, o colapso climático e a concentração de riqueza.

Cardeal Jorge Mario Bergoglio em um trem (2008)

“Francisco acreditava que o futuro da Igreja dependia de ir às margens para abraçar os fiéis no mundo moderno, e não de se esconder dele em clausura”, escreveu o jornalista Jason Horowitz no New York Times.

A ascensão improvável de um reformador

Nascido em 17 de dezembro de 1936, Francisco foi, desde jovem, introspectivo, inteligente e profundamente religioso — mas também dançava tango e jogava basquete. Aos 16 anos, teve uma experiência mística ao entrar na Basílica de São José, em Buenos Aires: “Senti como se alguém me agarrasse por dentro. Ali eu soube que devia ser padre.”

Ordenado sacerdote jesuíta em 1969, incorporou os pilares da ordem: humildade, serviço aos pobres e respeito às culturas originárias. Mesmo após tornar-se cardeal, seguia cozinhando para si e utilizando ônibus como transporte diário. Sua reputação de gestor rigoroso, porém eficaz, foi decisiva para sua eleição como Papa em 2013 — um ano marcado pela renúncia surpreendente de Bento XVI, em meio a uma crise institucional no Vaticano.

Francisco e crianças de rua e com deficiência: manter acesa a luz do amor – Vatican News

Ao ser escolhido Papa, Jorge Mario Bergoglio assumiu o nome de Francisco, em homenagem ao santo de Assis, símbolo da simplicidade e do amor aos pobres.

Uma Igreja em mutação

O papado de Francisco não começou fácil. Ele se deparou com um mundo católico dilacerado por escândalos de abuso sexual, queda na frequência de fiéis e resistência interna às mudanças. Ainda assim, enfrentou os desafios com firmeza, implementando reformas administrativas, promovendo transparência financeira e abrindo espaço para leigos — incluindo mulheres — nos debates decisórios da Igreja.

Entre suas medidas mais ousadas estão o reconhecimento de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, o acolhimento de pessoas transgênero como padrinhos e madrinhas de batismo, e a ampliação da definição de abuso sexual, que passou a incluir também adultos, uma mudança inédita desde 1983.

Seu estilo afável e sorriso fácil muitas vezes escondiam a dureza com que enfrentava o conservadorismo da Cúria Romana. Demitiu bispos tradicionalistas, limitou o uso da missa em latim e reiterou que a Igreja deveria olhar para os pobres, e não para os palácios.

E agora?

Com a morte do Papa Francisco se iniciam os tradicionais ritos do Vaticano. Seu anel papal será destruído, seus aposentos serão selados e seu corpo será velado na Basílica de São Pedro. Em breve, cardeais de todo o mundo viajarão a Roma para o Conclave, o processo que elegerá o próximo pontífice. Serão necessárias duas votações diárias, com maioria de dois terços, até que surja o nome do sucessor.

A grande questão que paira no ar: o próximo papa dará continuidade à visão reformadora e progressista de Francisco, ou representará o retorno a uma linha conservadora como a de seus antecessores?

Uma despedida planetária

As reações à sua morte começaram ainda nas primeiras horas do dia. Fiéis emocionados lotam a Praça de São Pedro. Emmanuel Macron, presidente da França, afirmou que Francisco “quis que a Igreja levasse alegria e esperança aos mais pobres”. A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni declarou: “Perdemos um grande homem e um grande pastor.” Até partidas de futebol foram canceladas na Itália em sinal de luto, segundo a Reuters.

O Papa Francisco deixa o mundo mais consciente da urgência da empatia, da inclusão e da justiça. Não foi apenas um líder da Igreja. Foi, verdadeiramente, um aliado da humanidade.

(Esse artigo foi baseado, em parte, na reportagem publicada pelo New York Times, de autoria das jornalistas  Lauren Jackson and Claire Fahy. O texto original pode ser lido nesse link

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