Vida além da Terra? James Webb e a possibilidade que abala certezas
Por Política em Debate, 17/04/2024, 15:50h
Em meio às crises políticas, fome de milhões, guerras e disputas geopolíticas que dominam nosso cotidiano, uma notícia, há muito esperada, chamou a atenção pela dimensão e implicações que pode trazer para toda a humanidade: A existência de vida além de nosso belo e mal tratado planeta azul.
O telescópio espacial James Webb, considerado a mais poderosa ferramenta já construída para observação do universo profundo, acaba de registrar o que muitos cientistas estão chamando de a evidência mais forte até agora da existência de vida fora do nosso sistema solar.

A revelação, publicada no The Guardian – e outros veículos de comunicação – sob o título “Scientists hail ‘strongest evidence’ so far for life beyond our solar system” (Cientistas anunciam “a mais forte evidência” de vida fora do nosso sistema solar), aponta para a detecção de compostos químicos considerados “bioassinaturas” — sinais que, aqui na Terra, estão diretamente associados a processos biológicos.
Os compostos detectados na atmosfera do exoplaneta K2-18b, pelo Telescópio James Webb, são o dimetil sulfeto (DMS) e o dissulfeto de dimetila (DMDS). Na Terra, essas moléculas são produzidos exclusivamente por organismos vivos, principalmente por fitoplâncton marinho e outras formas de vida microbiana em ambientes aquáticos. Aliás, as concentrações daqueles compostos é muito maior em K2-18b do que na Terra.
Os cientistas enfatizam que, embora tenham sido observadas essas bioassinaturas com um elevado grau de certeza das medições, de que estejam de fato corretas, é necessário cautela. Ainda são necessárias mais observações para confirmar a presença desses compostos e descartar possíveis origens não biológicas.
K2-18b está localizado a aproximadamente 120 anos-luz da Terra, na constelação de Leão. Essa distância, apesar de imensa em termos da perspectiva humana, é relativamente próxima em escala cósmica — o que torna esse exo planeta um dos alvos mais promissores na busca por sinais de vida fora do nosso sistema solar, é que ele está na chamada zona habitável de sua estrela. O planeta é duas vezes maior do que a Terra e é classificado como um “planeta hycean”, caracterizado por uma atmosfera rica em hidrogênio, temperatura média onde a água está no estado líquido, e com a presença de um oceano global, condições favoráveis à vida
A equipe de astrofísicos responsável afirma que essa pode ser uma virada de chave — um ponto de inflexão na busca por vida extraterrestre. A comunidade científica ainda aguarda novas confirmações, mas o entusiasmo é enorme com essa descoberta. Desconcertante até. Não se trata de especulação esotérica ou ficção científica: é ciência rigorosa, baseada em evidências observacionais precisas.
O que torna esse momento ainda mais fascinante é o impacto potencial sobre como nos enxergamos como espécie. A possibilidade real de que não estamos sozinhos no universo nos obriga a rever antigas arrogâncias, provincianismos e visões exclusivistas do cosmos. Se há — ou houve — vida em outro lugar, o lugar do ser humano na escala universal deixa de ser o centro absoluto, e isso abala não apenas os alicerces científicos, mas também religiosos, filosóficos e políticos.
Num planeta onde ainda lutamos contra as desigualdades mais básicas, convivemos em um estado de guerras eternas e destruição ambiental, talvez a perspectiva de vida fora da Terra seja o convite necessário a uma nova ética planetária. Afinal, se não somos os únicos, talvez seja hora de nos tornarmos, ao menos, melhores. E, quem sabe, verdadeiramente humanos.