Publicado em 15/03/2025, 17:55h

Sim. É um cofre. Uma caixa de ofertas. O gasofilácio é utilizado em igrejas cristãs, tanto católicas quanto evangélicas, para receber doações e contribuições voluntárias dos fiéis.

Na tradição católica, o gasofilácio pode ser encontrado geralmente próximo à entrada ou em áreas específicas para a coleta de doações destinadas à manutenção do templo, ajuda aos pobres ou outras finalidades religiosas. Em algumas paróquias, substitui as tradicionais coletas feitas durante a missa.

No meio evangélico, o gasofilácio também pode ser colocado na frente do altar ou em locais estratégicos no templo, para que os fiéis depositem seus dízimos e ofertas de maneira espontânea, sem a necessidade de uma coleta direta.

Na última vez que estive em um templo da Igreja Universal, para cumprir uma obrigação em apoio à família, embora me defina como agnóstico, pude perceber que ao menos nesse templo, de um bairro do Rio de Janeiro, a coleta era realizada distribuindo “envelopes” aos fiéis, enquanto se pedia contribuição. O culto foi de 3 horas e durante esse período se pediu 5 (cinco ) vezes a contribuição financeira ao público presente.

O conceito do gasofilácio remonta a tempos bíblicos, sendo mencionado no Antigo Testamento (2 Reis 12:9) e no Novo Testamento (Marcos 12:41-44), onde Jesus observa uma viúva depositando suas duas pequenas moedas como oferta no Templo de Jerusalém.

Jesus e a simplicidade

Cristo incentivava uma vida simples, desapegada das riquezas mundanas. Ele disse:

“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem e onde os ladrões arrombam e roubam. Mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
(Mateus 6:19-21)

Jesus também advertiu sobre a dificuldade dos ricos entrarem no Reino de Deus:

“É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.”
(Mateus 19:24)

Essa afirmação foi feita no contexto do encontro com o jovem rico, que desejava seguir Jesus, mas não quis abrir mão de sua grande fortuna para ajudar os pobres.

Jesus expulsando os mercadores do templo

Um dos episódios mais emblemáticos da aversão de Jesus à comercialização da fé foi a expulsão dos mercadores do Templo de Jerusalém. Ele ficou indignado ao ver o local sagrado transformado em um mercado, onde sacerdotes e comerciantes vendiam animais para sacrifício e trocavam dinheiro para os fiéis que vinham de outras regiões.

A cena está descrita em todos os Evangelhos, mas uma das passagens mais diretas é:

“Jesus entrou no templo e expulsou todos os que ali vendiam e compravam. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, e lhes disse: ‘Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a fizestes um covil de ladrões’.”
(Mateus 21:12-13)

O problema é que as palavras de Cristo não geravam lucros através da fé. Então, algo tinha que ser feito para que isso fosse mudado. Então surgiu a Teologia da Prosperidade. Uma brutal deturpação dos valores de humildade pregados por Cristo.

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A Teologia da Prosperidade e o enriquecimento de líderes evangélicos

A Teologia da Prosperidade surgiu nos Estados Unidos no início do século XX, mas ganhou força a partir da década de 1950 com o movimento pentecostal e neopentecostal. Sua base ideológica está na crença de que Deus deseja que todos os fiéis sejam prósperos financeiramente, saudáveis e bem-sucedidos, desde que tenham fé e sejam generosos em suas doações para a igreja, isto é, uma condição. Para acontecer uma coisa tem que acontecer outra.

Essa doutrina se popularizou nos anos 1980 e 1990 no Brasil com a ascensão das igrejas neopentecostais, que começaram a usar a mídia para expandir sua influência. Os principais líderes desse movimento adotaram uma estrutura empresarial para suas igrejas, tornando-se figuras altamente ricas e influentes.

“Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordante vos deitarão no vosso regaço.” (Lucas 6:38)

“Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o melhor desta terra.” (Isaías 1:19)

Com o tempo, as igrejas neopentecostais passaram a enfatizar que a prosperidade financeira seria um sinal de bênção divina, enquanto a pobreza poderia ser vista como falta de fé ou de obediência.

No Brasil, a Teologia da Prosperidade levou ao enriquecimento desmensurado de várias figuras. Entre os líderes mais conhecidos estão:

Os pastores e bispos que aderiram à Teologia da Prosperidade usam diversas estratégias para acumular riquezas:

  1. Dízimos e Ofertas Extravagantes – Encorajam os fiéis a doarem grandes quantias prometendo recompensas divinas.
  2. Venda de Objetos “Ungidos” – Comercializam produtos como óleos, sal, toalhas e até tijolos abençoados.
  3. Programas de TV e Mídia – Controlam canais de televisão e rádio, vendendo espaços publicitários e arrecadando doações.
  4. Megaeventos e Congressos – Realizam cultos grandiosos que movimentam milhões de reais.
  5. Expansão Internacional – Criam filiais no exterior para aumentar a arrecadação global.

Falsidade ideológica e exploração da Fé

Algumas igrejas que pregam a Teologia da Prosperidade têm sido acusadas de utilizar estratégias que podem ser vistas como exploração da fé dos fiéis, distorcendo ensinamentos bíblicos para obter vantagens financeiras. Tais práticas podem ser interpretadas como uma forma de falsidade ideológica, ao apresentarem promessas de bênçãos materiais em troca de doações financeiras.

Líderes religiosos que ameaçam os fiéis com maldições ou ataques do diabo, caso não contribuam financeiramente, podem estar utilizando de manipulação psicológica para obter recursos. ​

Foi publicado recentemente um caso escabroso em que um Pastor mandava matar fiéis que abandonassem a sua igreja.

Foi o que afirmou a Promotoria no seu (dele) julgamento, que levou à condenação do pastor Edimar da Silva Brito a 32 anos de prisão, na última terça-feira (11/03), pela morte de duas mulheres, ocorridas em 20 de janeiro de 2016.

Líderes de algumas dessas igrejas já foram alvo de investigações por crimes como falsidade ideológica, estelionato e lavagem de dinheiro. Um exemplo notório é o de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, que foi denunciado por “delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular”. Embora tenha sido preso e posteriormente solto, essas acusações levantam questões sobre a legalidade das práticas de arrecadação de fundos. ​

A Teologia da Prosperidade tem sido amplamente criticada por promover um materialismo disfarçado de teologia, com fórmulas simplistas que podem levar à exploração financeira dos adeptos. Críticos argumentam que essa doutrina pode ser vista como uma forma de negócio religioso, onde a fé é comercializada. ​

“E nós, o que será de nós? E se Pedro, Tiago, João, André e aquela turma dos 12 teve, eu fico imaginando você.

E não quer nada, você só quer botar dinheiro no gasofilácio para receber 100 vezes mais, conforme a promessa do charlatão que te conduz, que te guia ou das barganhas que ensinaram você a fazer nas crenças e nas religiões, que plantaram as sementes das suas barganhas com as divindades de grupos e crenças religiosas diferentes, que estão aí para aceitar e fazer negócio com você.

E aí vai para a igreja e na igreja o Deus da igreja também é um cara que faz negócio à base de grana com você. Ele não aceita nem galinha, nem farofa, nem cachaça, não. É grana e muita. E você tem que passar fome e dar dinheiro pra ele. A tua mãe tem que se danar, mas você tem que primeiro dar pra ele, que vai direto pro bolso do charlatão que fala em nome dele, e você parece que, numa cegueira absoluta, não enxerga nada.

A maior de todas as manifestações de estupidez e de burrice é essa. Eu vejo o cara. Bota um dinheiro num gasofilácio e acha que caiu nas mãos de Deus. Acha que caiu nas mãos de Deus. E o dono desse banco religioso fica cada vez mais rico, cada vez mais rico. E você vai aí. Para cada cem, tem um que melhora de vida e passa a dar testemunho dizendo que vale a pena fazer o sacrifício que eles fizeram, porque, afinal de contas, ele, que é uma exceção, que prosperaria estatisticamente em qualquer outra situação, é o exemplo de que dá certo.

Mas você está cego, continua indo fazer a sua fé. Era melhor ir para a loteria esportiva toda a semana. Você iria gastar menos com mais chance de ganhar do que aí no cassino do gasofilácio…” (Pastor Caio Fábio).

Veja todo o conteúdo acima transcrito nesse vídeo:

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